Como puxar o assunto sobre independência financeira com seu parceiro

Como vocês sabem, eu não criei meu plano de independência financeira sozinha. Eu tive um parceiro que embarcou nessa comigo. Ter um parceiro é uma ótima forma de dividir alguns gastos, principalmente os relacionados à moradia. Mas algumas pessoas enxergam o seu parceiro como o obstáculo para uma vida financeira saudável. Então como puxar a conversa? Como fazer com que ele mude seus hábitos e seja um ajudante, e não uma barreira, da independência financeira?

Quando eu e meu marido nos conhecemos, nós tínhamos uma vida financeira normal. A gente tinha um emprego que pagava nossas contas e mais alguns luxos. A gente saía para jantar fora aos finais de semana, íamos ao cinema e planejávamos férias incríveis pela Europa. A gente pagava academia, cada um tinha seu carro e passávamos boa parte do tempo escolhendo o que assistir nas dezenas de canais da TV à cabo.

O Aposentado dizia que tinha uma meta financeira. Quase que uma meta tirada da cartola. Não tinha regra do 4% por trás, mas era um valor que na cabeça dele daria para parar de trabalhar quando fosse mais velho e bancar uma família. Ele não contava  que teria uma esposa que ajudaria com as contas. 

Fui eu quem descobri o movimento FIRE e as contas por trás de uma aposentadoria antecipada. E quando eu provei para ele que poderia atingir a independência financeira com bem menos dinheiro do que a meta aleatória dele, e num prazo bem mais rápido, ele embarcou nessa comigo. 

Desde o começo ficou estipulado que cada um teria o seu dinheiro e sua independência financeira. E só depois que fomos morar juntos que decidimos dividir os gastos em comum.

A ideia da independência financeira e aposentadoria precoce foi o que conquistou o Aposentado. Ele também estava preso em um emprego que pagava bem, mas que em troca consumia todos as horas que estava acordado durante a semana. Ele também tinha menos de 10% do ano para curtir férias e viver como gostaria. A ideia de ter liberdade para viver 100% do tempo como gostaria foi o ponto chave da virada para ele.  

Ele abraçou o movimento junto comigo. Cancelamos a TV à cabo, o plano de academia e cada um vendeu o seu carro. Repensamos cada conta mensal, do celular até a conta da internet. Depois decidimos morar juntos no meu apartamento e usar a renda do aluguel do apartamento dele para pagar as contas de casa. Tínhamos faxineira só a cada 15 dias e depois de um tempo aprendemos a fazer nossa própria faxina.

A gente não deixou de fazer coisas divertidas, nós apenas usamos a criatividade para fazer coisas divertidas e baratas. Passamos a fazer longas caminhadas por São Paulo e descobrimos uma vida cultural gratuita pela cidade, o que nos mantinha tão ocupados que abandonamos a sessão de cinema prime com pipoca regada a azeite trufado. Também decidimos fazer algo útil com as horas que passávamos na frente da TV e aprendemos a cozinhar assistindo ao Cozinha Prática da Rita Lobo (minha musa inspiradora) e às Receitas do Chuck (o muso dele). Só não abandonamos o prazer de viajar, mas nos lançamos ao desafio de viajar com metade do orçamento das férias anteriores e a meta foi cumprida com êxito.

Eu lembro até hoje da primeira vez que o Aposentado contou sobre nosso plano de aposentadoria precoce para um amigo próximo dele. Ele explicou para o amigo que a gente chegaria lá quando tivesse um patrimônio que fosse equivalente a 25 vezes os nossos gastos anuais. E que para isso a gente estava aprendendo a viver com menos, com o objetivo de viver mais!

Pouco tempo depois ele me pediu em casamento, e eu tive certeza de que teríamos vários desafios como casal, mas dinheiro (a principal causa de divórcio) não seria um deles.

Enquanto a minha história parece um conto de fadas, eu sei que alguns casais enfrentam problemas quando o assunto é dinheiro. Tem casais que um dos membros ganha mais. Ou o outro gasta mais. Tem parceiro que cuida mais da casa, dos filhos e acaba se dedicando menos à profissão por conta disso. Tem parceiro que simplesmente não consegue se controlar quando o assunto é consumo.

Mas todos os casais têm objetivos em comum. E esse tem que ser o pontapé inicial de qualquer conversa sobre dinheiro.

Uma vez, um amiga desabafou que o marido estava chateado porque ela não conseguia juntar dinheiro. Ela tinha condições para isso, mas ela não via propósito nisso. Ela não entendia o poder dos juros compostos, como funcionaria a renda dela na aposentadoria e muito menos sobre o poder que ela tinha sobre o próprio dinheiro. Ele só dizia a ela que queria que ela guardasse dinheiro. Mas faltou explicar que hoje eles gastam mais que o teto do INSS, e que eles iriam precisar compor renda durante a aposentadoria. Ou então, eles iriam precisar dar adeus ao padrão de vida que eles têm hoje.

Se você é a pessoa que entende mais de finanças do casal (o que eu imagino que seja por ler esse blog), você precisa marcar um encontro sobre finanças com seu parceiro. Faça de uma forma descontraída. Abram uma garrafa (barata) de vinho. Listem os seus objetivos financeiros em comum. Sonhe com uma vida de independência financeira. O que vocês fariam se não precisassem trabalhar mais todos os dias da semana? Quais sonhos vocês poderiam realizar se tivessem tempo?

Deixe claro para o seu parceiro que só há duas formas de atingir esses objetivos: gastando menos ou ganhando mais. Se o seu parceiro tiver uma ideia de como ganhar mais dinheiro, ótimo. Mas talvez fique claro para ele que o caminho mais óbvio é via gastos.

E antes que ele ache que o esforço vai ser gigante, explique como funciona a mágica dos juros compostos. Que se vocês juntarem apenas 440 reais por mês, em 30 anos vocês serão milionários. Vocês terão desembolsado um total de apenas 158 mil reais que irão se multiplicar para um milhão graças à mágica dos juros compostos.

Se vocês conseguirem traçar um objetivo financeiro em comum, e eu espero que consigam, é importante se manter na linha. A conversa tem que ser constante. Repensar os planos financeiros, entender onde vocês estão com dificuldades, o que precisa melhorar. Existe alguma forma de vocês atingirem o objetivo mais rapidamente?

Os planos podem mudar, e novos sonhos podem surgir. O mais importante é que esses sonhos sejam partilhados, que ninguém sonhe sozinho e se frustre depois que o outro não embarcar. Eu e meu marido ainda mantemos o costume de caminhar por São Paulo e abrir nossos corações. Conversar enquanto caminha é ótimo porque não dá para ficar no celular, então o maior sugador de atenções da atualidade é eliminado. Durante as nossas caminhadas, nós partilhamos os nossos desafios e medos ao longo da jornada. E foi em uma dessas longas caminhadas por São Paulo que começamos a sonhar com uma viagem de trailer pelo Brasil.

O mais importante é que ambos tenham clareza do porquê da mudança. E porque talvez vocês devam viver de uma forma diferente dos outros casais. E o que vão ganhar com isso. A jornada tem um objetivo claro: realizar um sonho importante para o casal!

Ter um parceiro na jornada da independência financeira ajuda muito, embora não seja uma necessidade. Talvez sem o Aposentado, eu me sentiria mais sozinha vivendo uma vida frugal. E sei que ele já me ajudou (e ainda ajuda) a lembrar da importância de todas as nossas escolhas. Então não deixe de puxar o assunto com o seu parceiro. Ele com certeza pode se tornar um aliado valioso na busca pela independência financeira!

7 respostas

  1. Olá AP30, bom dia

    Estou em fase final de chegar ao FIRE, eu adotei a estratégia de conversar com a senhora VAR pelo lado das despesas. Percebo a dificuldade de abordar termos de juros compostos, mas compreender os gastos fica mais fácil.

    Acredito que ter paciência com o parceiro é o mais importante.

    Abraços,

    1. Oi VAR!
      Eu fiz um post chamado de “Como se tornar um milionário” e tenho usado muito ele para justificar para alguns amigos porque ir de metrô (que custa 4 reais) e não pegar um Uber (custando 25 reais o mesmo trajeto). Economizar 20 reais por dia parece pouca coisa. Mas em 1 mês são 600 reais, e isso em 30 anos, te torna um milionário. Quando eu falo sobre explicar juros compostos para o parceiro, eu digo no sentido de fazer essas contas!
      Assim eu acho que a abordagem do lado das despesas faz mais sentido. A pessoa deixa de achar que é uma escolha de 20 reais e passa a perceber que isso é uma escolha de 1milhão!
      Abs

  2. Olá,
    Te acompanhava nos tempos do Sempre Sábado e só há pouco descobri esse novo blog. Já li todos os seus textos. São excelentes e um grande incentivo nessa caminhada do minimalismo e da independência financeira. Na verdade eu já sou aposentada do serviço público (tenho 59 anos) e, portanto, não tenho tantos anos assim pela frente para juntar uma bolada grande. Mas levo uma vida simples e, apesar de nunca ter tido um salário alto, consegui guardar uma reserva razoável. Principalmente depois de aposentada. Meu filho e minha nora também acompanham seu blog e eles são um casal como você e o aposentado. Estão sempre caminhando juntos, olhando para a mesma direção e com os mesmos objetivos. A vida toda eu incentivei meu filho mais velho a estudar o mercado financeiro para que me ajudasse a diversificar as aplicações (eu sempre colocava o dinheiro na poupança), mas ele nunca atendeu meu pedido. Há uns 3 anos o mais novo se casou e ele a mulher se interessaram e estudaram bastante. E com o inventivo deles diversifiquei minhas aplicações. Parabéns pelo Blog. Nós não comentamos, mas estamos sempre por aqui.

    1. Olá Cláudia!
      Você não faz ideia da alegria que eu sinto quando leio comentários como o seu.
      Eu ainda estou enfrentando medos de me expor, então ler esses comentários incentivam muito a continuar com o blog.
      Me arrependi de encerrar o Sempre Sábado e espero que esse blog aqui continue vivo por anos e que seja um ponto de encontro das pessoas que aprenderam a viver com menos para viver mais! E que se interessam por investir o dinheiro, afinal de contas, essa é uma ferramenta poderosa para gente viver a vida que sempre sonhou ;)
      Fico feliz que você se sente tranquila na sua vida financeira e que seu filho está num caminho parecido com o meu! Quero essa comunidade de FIREs no Brasil cada vez maior!

  3. Boas dicas, ter uma companheira(o) alinhada(o) com os objetivos financeiros faz toda a diferença.

    O difícil é quando um poupa e o outro é gastador. Pelo que já vivi não adianta ser muito impositivo, acaba gerando o efeito contrário e a pessoa se fecha em seu mundo. A abordagem do vinho parece mais promissora rss.

    Abs!

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