Viagem, vida simples e ostentação

Caros leitores, sei que estive ausente nas últimas semanas. Mas essa ausência teve um motivo nobre: estava aproveitando ao máximo minha estadia em Paris, imersa na rica cultura e história francesa. Minha mente estava tão envolvida nessa experiência enriquecedora que acabei não encontrando inspiração para escrever sobre finanças, e o blog ficou abandonado.

Mas a viagem chegou ao fim. Retornei a São Paulo profundamente impactada pelos 3 meses que passei em Paris, e agora estou registrando todas as minhas reflexões desde meu retorno. Ao organizar esses pensamentos, percebi que finalmente tinha encontrado um tema para um post no blog. E confesso que fico feliz por poder compartilhar novamente minhas reflexões com todos vocês. Paris foi maravilhosa, mas a saudade da minha rotina de escrever e ler seus comentários aqui foi inevitável.

Da mesma forma que me preparei para responder à ampla pergunta de “como foi?” quando retornei do meu período sabático, também estou me preparando para reencontrar amigos e familiares e responder a essa mesma pergunta. No entanto, não quero me limitar a simplesmente dizer “foi incrível”.

É claro que viajar para Paris foi diferente da experiência de viajar de trailer pelo Brasil. Mas essas duas longas viagens que realizei desde que me tornei FIRE compartilharam um aspecto em comum.

A clareza desse aspecto ficou evidente ao final da viagem, quando enviamos um vídeo de “feliz aniversário” para nossa sobrinha de 8 anos e a resposta dela foi que o que mais chamou sua atenção no vídeo foi o fato de eu estar com cabelos brancos.

Só que eu não ganhei cabelos brancos em Paris, eu só parei de pintá-los.

Longe do meu círculo social, eu me preocupei bem menos com a aparência. E gastando menos tempo preocupada em parecer, eu encontrei espaço para ser genuinamente eu mesma. Essa é a verdadeira importância de viajar.

Dizem que somos uma média das cinco pessoas com as quais mais convivemos. Portanto, é de extrema importância cercar-se de pessoas que admiramos. Infelizmente, durante minha época de trabalho, acabei convivendo mais com pessoas que não despertavam minha admiração do que com minhas queridas amigas. Esse fato teve um impacto profundo em mim, especialmente na minha aparência.

Mas durante a viagem, o ciclo de pessoas com quem você convive reduz significativamente. No meu caso, era só o meu marido. E com menos interferência externa, você se sente mais livre para ser quem você realmente é. E não se preocupar com alguns fios de cabelos brancos.

Isso ficou evidente com os brasileiros que conhecemos durante a viagem e que estão vivendo na Europa há menos de 2 anos. Todos, sem exceção, disseram que gostavam de viver na Europa porque sentiam que os europeus têm um estilo de vida mais simples, ao passo que os brasileiros gostam de ostentar mais.

Só que esses brasileiros recém-chegados ainda possuem um ciclo social restrito. O processo de fazer novas amizades leva tempo. E provavelmente, essa restrição social é a principal razão pela qual eles se sentem confortáveis em viver de forma mais simples e ostentar menos, já que não possuem uma audiência para impressionar.

É claro que os franceses apreciam a ostentação, afinal, eles são os reis do mercado de luxo. Só que os recém-chegados ainda têm pouco acesso a eles. Quando encontrei uma amiga que mora lá há mais de dez anos e que está bem integrada na sociedade francesa, ela estava usando sapatos Louboutin e sugeriu o conforto de um restaurante para nos encontrarmos. Minha sugestão de fazer um piquenique não foi muito bem aceita.

Durante a nossa estadia, alguns amigos decidiram visitar Paris como destino de férias. Foi uma experiência incrível poder compartilhar com eles tudo o que estávamos aprendendo sobre a cidade. Levávamos-os para passeios de bicicleta, para desfrutar de um piquenique nos parques e apreciar um bom vinho às margens do rio Sena. Coisa simples e barata. E todos gostavam.

A conclusão é que apreciamos um estilo de vida simples. Mas como seres sociais, temos a necessidade de aprovação externa. E isso nos envolve em um ciclo de consumo, a fim de demonstrar para os outros que somos pessoas valiosas e que merecemos o investimento de tempo e energia que uma amizade requer. A gente ostenta para conseguir a aprovação dos outros. E isso nos afasta do simples.

Distante do meu círculo social, decidi me permitir passar três meses da viagem utilizando apenas dois pares de sapatos: uma bota para o frio e uma papete para o calor. Abandonei o uso de maquiagem e deixei de lado os vestidos, pois, na maioria dos dias, eu sentava-me na grama de algum parque para me alimentar. E claro, deixei de pintar meus cabelos brancos, num puro desleixo com a aparência.

O que obtive em troca? Essa escolha abriu espaço para que eu estivesse mais conectado comigo mesma. Tive tempo para as reflexões necessárias durante essa viagem, para vivenciar as experiências que buscava e para direcionar menos minha atenção aos outros e mais para mim mesmo.

E essa é a verdadeira importância de viajar por períodos tão longos. A gente diminui o volume externo, e aumenta o volume da caixa de som interna.

Mas é impossível viver assim por muito tempo. Após um mês de viagem, comecei a sentir a falta de um círculo social, o que tornou a experiência um pouco menos empolgante. Felizmente, essa sensação foi amenizada quando amigos e familiares queridos se juntaram a nós. Nessas ocasiões, eu sentia a necessidade de usar um pouco mais de maquiagem, mas a alegria de estar com eles compensava esse inconveniente.

A vida em Paris foi realmente maravilhosa, mas voltamos felizes para São Paulo. Ainda não marquei para encontrar ninguém porque preciso pintar meus cabelos brancos antes. Minha sobrinha já deu esse toque. 

21 respostas

  1. Realmente, a classe média europeia tem um estilo de vida bem mais simples que a classe média brasileira. Consequências de um país com uma alta desigualdade social.

    Caso seja possível, seria MUITO interessante ter uma ideia dos custos de uma viagem como essa :)

    Abraços!

    1. Oi FT!
      Eu confesso que estou adiando esse post sobre gastos, rs. Escolhemos uma cidade cara para passar esses 3 meses.
      Em resumo, é tudo o dobro de Sao Paulo. Moradia, transporte e alimentação. Isso sem dúvidas contribuiu para que eu voltasse feliz para casa!

  2. Que máximo! Feliz por vocês terem aproveitado a experiência e, igualmente, apreciarem o retorno ao lar (é bom ter um lugar pra chamar de “lar”, né?).
    Muito chique, já tens até hater aqui no blog : D
    Beijos

  3. Obrigada por compartilhar suas experiências. Eu tenho uma visão de mundo bem parecida com a sua.
    Também acho que a maioria das pessoas com quem convivo gostam de ostentar. Isso gera um ciclo vicioso, muitas vezes inconsciente. A pessoa se sente obrigada a comprar um carro melhor, pq o vizinho comprou um carro novo. Paga mensalidade numa academia top pq o colega de trabalho faz isso. Vai todo fds na pizzaria ou churrascaria gastar a maior grana pq a família do irmão/ irmã posta foto na rede social fazendo isso.
    Outra pessoa, como o anônimo que postou, pode ter uma visão diferente, e tudo bem. Cada um tem sua opinião. É pra isso que serve um blog que se propõe a discutir sobre frugalidade, provavelmente quem faz o blog tem essa visão de mundo, de que uma vida simples é um bom estilo de vida.

  4. 1. Generalização apressada: A autora faz generalizações sobre a experiência de viver na Europa, afirmando que os brasileiros tendem a ostentar mais em comparação com os europeus. Ela baseia essa afirmação apenas nas pessoas que conheceu durante sua viagem e não considera a diversidade de comportamentos e atitudes entre os indivíduos.

    2. Apelo à tradição: A autora utiliza sua experiência pessoal de não pintar mais os cabelos como uma forma de se libertar das preocupações com a aparência. Ela sugere que essa é uma maneira mais autêntica de ser, sem considerar que as escolhas pessoais de cada indivíduo podem variar e não há uma única forma correta de se relacionar com a aparência.

    3. Falácia do espantalho: A autora coloca a ideia de ostentação como algo negativo e oposto ao estilo de vida simples. Ela argumenta que a ostentação é impulsionada pelo desejo de aprovação externa e sugere que isso nos afasta de uma vida mais simples. No entanto, nem todas as formas de ostentação são necessariamente negativas, e o estilo de vida simples não é a única maneira de alcançar a autenticidade ou a felicidade.

    1. Muito fácil relativizar tudo como você fez. E ainda dando um viés de crítica “técnica “ a uma análise inevitavelmente subjetiva da autora. Por que não colocar sua própria visão pessoal ou de suas experiências ao invés dessa crítica vazia? Parece até que colocou no chatgpt e pediu para fazer uma análise crítica, rs.
      Acredito que a autora e nós que gostamos e acompanhamos o blog estamos aqui para trocar ideias e experiências de maneira desarmada e construtiva.

      Abs,

  5. Como sempre taaaao inspiradora!! Como tudo fica mais legal quando a gnt consegue se conectar com a essência das pessoas, poder conversar abertamente, sem máscaras e sem medo de sermos julgados. Fica tão mais interessante essa troca. Você me inspira mto a me assumir do jeito que sou e cada vez mais me relacionar com pessoas que tem a ver comigo. Flui taaaaao mais facil.

    Ps. acho que você deveria assumir esses cabelos brancos sim. =)

  6. Pura verdade. Quem morou fora sabe muito bem que o brasileiro gosta de ostentar e aparecer, mostrar, aparentar.
    Nos EUA vc ve pessoas de piajama e pé descalço no supermercado, no Brasil só faltam ir de terno e gravata ou vestido. Impressionante isso, uma das coisas que mais tenho raiva do Brasil é isto

    1. Oi Renata!
      Acho que meu texto não ficou claro.
      Eu disse que os imigrantes achavam que brasileiro gosta de ostentar, mas essa é a opinião deles, não a minha.
      Eu acho que todo mundo gosta de ostentar. Mas a gente só ostenta quando tem platéia.
      Se você acabou de chegar a um país estrangeiro e, portanto, não conhece ninguém, aí você se sente livre para não precisar ostentar.
      É por isso que eu acho que tem essa confusão aí. Brasileiros, europeus, norte-americanos, todos ostentam.
      Mas quando a gente é um brasileiro em terras estrangeiras a gente se sente livre para ir de havaianas no mercado porque sabe que não vai encontrar ninguém conhecido!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *