Você não precisa de dinheiro para ganhar o jogo do status

“Mas eu vou aguentar viver gastando pouco dinheiro? Quando meus amigos comprarem carros chiques e roupas de marca, eu vou me sentir inferior a eles.” Eu te entendo e confesso que mesmo tendo os músculos da frugalidade bem fortalecidos, também me pergunto isso.

Gastar pouco não significa que evoluímos e não jogamos mais o jogo do status. Esse jogo foi incorporado aos nossos instintos desde que percebemos que aumentamos a chance de sobrevivência se andarmos em bando. Ou seja, desde que a raça humana começou. Só que para pertencer a um bando, você tem que ser valioso para ele. Ou então o bando vai preferir te deixar para trás numa situação de vida ou morte. Essas situações já são bem menores nos dias de hoje, mas a gente ainda não conseguiu reduzir a necessidade de sermos bem visto aos olhos dos outros.

Ignorar o jogo não é a saída. Isso é o tipo de coisa humanamente impossível. Mas dá para jogar de forma mais estratégica. E assim como nos nossos investimentos, a melhor saída aqui é diversificar as nossas habilidades e formas de trazer valor a um grupo.

Gastar dinheiro é a forma mais comum de ganhar pontos no jogo por status. Você compra algo novo, seus amigos enxergam nisso um sinal de que você é bem sucedido, e, portanto, eles podem ganhar mantendo você por perto. E assim você sobe de nível no jogo. Mas subir de nível comprando coisas é pouco eficiente. Assim que alguém compra algo mais caro (ou maior, ou apenas novo), você volta a ficar por baixo.

Consumir para ganhar status é um equilíbrio instável. E a instabilidade gera muita ansiedade para quem acabou de conquistar uma posição de destaque. Quando você sobe de status porque comprou algo que a sociedade vê como valioso, você fica tenso o tempo todo procurando saber se aquela compra ainda te garante status no jogo. A única saída é se manter num estado constante de aquisição de coisas novas e valiosas. O que pode significar a sua falência financeira. Já ouviu falar sobre artistas famosos que receberam rios de dinheiro, mas ainda assim acabaram falidos? 

A boa notícia é que status não é sinônimo de dinheiro. A regra do jogo é clara: você precisa agregar valor ao grupo. Eu não abandonei o jogo quando decidi morar em um apartamento de 27m2. Eu apenas decidi ganhar pontos de outra forma. Passei a ouvir mais e falar menos, e isso claramente me fez ganhar status como boa amiga. Estou aprendendo a cantar e tocar violão (quem não gosta de um amigo que traz um violão para um churras?). Estou disponível para ir ao museu em plena terça-feira com uma amiga que está de férias em São Paulo. Eu também amo cozinhar, e uso muito isso a meu favor no jogo.

Você precisa escolher o seu jogo de forma sábia. Se escolher o dinheiro, você vai acabar trabalhando para sempre. Se escolher a beleza física, então vai ser escravo da estética. Se escolher a fama, então vai se tornar dependente da atenção dos outros.

E é por isso que o jogo do status faz tanta gente infeliz. Cada forma de jogar o jogo traz consequências, e você precisa estar atento a elas. Não adianta ganhar pontos com os outros e viver uma vida miserável no íntimo. Você precisa considerar o seu lado autêntico no jogo. Não adianta querer ser a mais magra do grupo se você ama comer. Você pode acabar desenvolvendo um distúrbio alimentar grave. Assim como não adianta gastar dinheiro para ganhar status se você detesta seu trabalho.

Outra forma de se sentir bem no jogo é participar de vários grupos. Em alguns você pode se sentir inferior, mas isso pode ser compensado por outros em que o seu status é mais elevado. Eu tenho amigos do tipo renda alta e gastões. Quando eles usam o dinheiro para ganhar pontos no jogo do status, eu sei que perco alguns pontos. Mas também tenho amigos que vivem de forma tão simples quanto eu, mas que ainda precisam trabalhar para pagar as contas. Com eles eu me sinto bem posicionada no jogo.  

Quando estou me sentindo por baixo, eu uso a independência financeira como carta na manga. Recentemente numa roda de apresentações do tipo “Meu nome é tal, e eu sou diretor de supply chain da empresa X”, eu fiquei pensando no que iria dizer. Não queria dizer que eu não precisava trabalhar para pagar as contas porque parecia ser muito esnobe. Então quando chegou a minha vez eu disse “eu não sou definida por uma profissão.” Ao final do evento, poucos lembravam da profissão dos outros, mas a minha ninguém esqueceu.

Se você não está conseguindo recuperar o status desde que parou de gastar dinheiro para impressionar os outros, então descreva nos comentários qual foi a sua última ideia radical para cortar os gastos que eu garanto que você ganhará pontos por aqui. Vamos inundar essa comunidade (e quem sabe o mundo) de ideias fora da caixa para ninguém viver sozinho quando decidir ser frugal!

10 respostas

  1. Desde muito novo, eu sempre fui poupador. Acho que muito possivelmente por vir de uma família que tinha orçamento extremamente apertado, eu fui desenvolvendo uma mentalidade frugal.

    Nunca fui de muitos amigos, mas os que tive e tenho me aceitavam/aceitam sabendo que eu não sou o gastão da turma e nem vou querer impressionar ninguém com aparência ou posses. Como você bem disse no post, cada um de nós tem atributos que se destacam e por isso é acolhido nos grupos.

    Hoje em dia, quando conheço alguém com potencial de se transformar em relacionamento afetivo, eu gosto de desde o começo já deixar dicas de que eu tenho estilo de vida bem diferente do padrão: vegetariano (inclinado a me tornar vegano em algum momento), caseiro, sem carro e usuário de bike. Acho que assim acabo evitando que se crie qualquer tipo de expectativa sobre mim. Se não aprova meu estilo de vida, é só dar tchau e tá tudo bem.

    Já tive um relacionamento em que o parceiro aparentemente entendia os meus posicionamentos, mas não conseguiu sustentar por muito tempo porque acabava buscando outros propósitos de vida.

    1. Oi Thiago!
      Infelizmente falar de dinheiro é tabu. Mas concordo com vc, que se a gente não der dicas de que somos frugais desde o começo da relação, pode se tornar algo insustentável.
      Ainda mais para nós, da comunidade FIRE, que valorizamos tanto o dinheiro. Quando o assunto é dinheiro, a gente simplesmente não consegue ignorar e fazer o que a maioria faz.

  2. Eu tenho a impressão que os grupos sociais mais importantes são aqueles em que as pessoas não ligam para o quanto temos ou gastamos, mas sim por interesses comuns. Acho que quanto mais tempo temos, maior a chance de nos dedicarmos a algum hobby, que nos leva a encontrar outras pessoas que tem o mesmo interesse. Assim temos a chance de fazermos boas amizades.

    Por outro lado, quando estamos trabalhando somos obrigados a participar de grupos sociais que podem ser bem tóxicos e desagradáveis. Temos que manter um “bom relacionamento” mesmo com gente muito chata, competitiva e desonesta . Dependendo do grupo com quem nos relacionamos em uma empresa, essas “obrigações sociais” podem ser bem difíceis. A gente acaba sendo um “personagem” dentro da empresa, uma vez que não podemos ser muito sinceros sobre as nossas opiniões… Nessas horas percebemos como é valiosa a liberdade de escolhermos com quem nos relacionamos na vida…

    1. Ótimo ponto Fernando! Nem toda relação social é baseada em dinheiro. Eu sinto muito prazer quando recebo minhas amigas em casa, quando falamos horas pelo telefone (sim, eu ainda faço isso), ou quando vamos dar uma volta no parque. Bater papo é a melhor forma de conexão com as pessoas.

      E infelizmente o mundo corporativo tem uma métrica óbvia: salário. E essa métrica parece prevalecer sobre tudo. Como a gente não costuma falar sobre o quanto ganha com nossos colegas, a forma que as pessoas escolhem para exibir o salário delas é gastando.

      Eu fiz bons amigos no mundo corporativo, mas poucos. A maioria que eu encontrava diariamente já não fazem mais parte do meu grupo social agora que estou aposentada. Ficou claro que a gente só convivia todo dia porque éramos obrigados, rs.

  3. Muito bom seu texto! Uma ótima reflexão acerca de como as pessoas veem as outras apenas pelas aparências. Não importa se você é Indepentente financeiramente ou CEO de uma multinacional, algúem sempre vai querer ser melhor que você. Normalmente, quando alguém pergunta a minha
    profisão, já tento mudar de assunto para não aprofundar, costumo não gerar expectativas e voar fora do radar. Uso da filosofia interiorana, ensinada pelo meu pai “o que ninguém sabe, ninguém estraga”.

    Estou tentando seguir na vida frugal e confesso que está bem dificil socializar e manter as regras da convivência, principalmente no meu trabalho, ainda não alcancei a IF. Vejo e escuto as pessoas falarem que gastam dinheiros em objetos e coisas que nunca serão usadas na vidas ou utilizarão apenas uma vez, e depois reclamam que não tem dinheiro para levar uma vida básica e confortavél, conheço pessoas que recebem menos de 3 mil reias e gastam 2.800 de cartão de crédito com coisas Supérfluas, já tentei falar sobre como deixar de ser materialista compensa a longo prazo, mas as pessoas não querem deixar de receber o retorno imediatista, o que na minha visão, beira a ignorância. Viver para pagar boleto, se equipara a servidão da Idade Média.

    Minha última ideia para economizar foi cancelar o curso de inglês que eu pagava por mês e me dedicar sozinha, depois de um tempo, alguns cursos não agregam mais valor e nem conhecimento, pagar por pagar não compensa, o tempo perdido com a aula pode ser usado para estudar com algum curso no Youtube ou ler algum material de graça. Pesquisando encontrei ótimos materiais de graça na internet.

    Adoro seus posts e pretendo um dia, ser sua companheira de aposentadoria precoce.

    Um abraço.

    1. Oi Anon!

      Adorei a filosofia interiorana “o que ninguém sabe, ninguém estraga”. Realmente é uma filosofia que está em baixa na grande cidade, rs. E faz todo sentido. Porque quando a gente quer se exibir comprando coisas, é muito fácil alguém “estragar” nossa alegria comprando algo melhor ainda.

      Também sou fã de cursos gratuitos do Youtube. Estou fazendo o curso de francês da Kultivi e estou impressionada como o curso é eficiente e completo. Ótima ideia de economia!

      E pode pular nessa piscina da aposentadoria precoce que ela tá quentinha! Falta pouco?

      1. Oi, boa tarde!

        Kultivi é amor, Kultivi é vida! :D

        Também faço o curso de Francês deles, estou no intermédiaire. Não perde nada para os pagos e o livro consegui fazer o download na internet. Quando der você procura o Dicionário Visual Francês/Inglês
        é maravilhoso. Achei o pdf é uso o tablet para estudar, economia de 180 dinheiros (hahaha). Só não aprende quem não quer, conhecimento é importante, a globalização já bateu na porta a muito tempo, no meu campo de trabalho, inglês, francês e espanhol é o minimo do minimo.

        Ainda bem que a piscina está quente hahahaha não falta muito para a minha aposentadoria, mas como tenho 28 anos, não pretendo parar tão cedo. Tenho vantagens boas no meu trabalho, posso sair para aula, tenho PLR, convênio, VR e trabalho com grandes profissionais de diversos paises e grandes companhias.

        Estou tentando levar uma vida mais leve e tranquila, sem estresse, costumo falar que o meu barquinho é pequeno e não suporta o mar bravo, estresse é o mal do século. Acredito que paciência é uma virtude e estou trabalhando a minha com amor.

        Abraços,
        Ivy :D

        1. Oi Ivy!

          Adorei a dica do dicionário. Já vou baixar aqui também.
          Eu também adoro o mundo globalizado. Passo boa parte do meu tempo ouvindo a podcasts em inglês e fico triste quando uma amiga não consegue ouvir porque não tem o inglês fluente. Fico pensando a quantidade de informação valiosa que eu já adquiri só por ser fluente em inglês. Espero que o francês também abra muitas portas.

          Que bom que está conseguindo levar a vida de forma mais leve! E que bom que já começou a fazer seu plano de independência financeira antes mesmo de detestar o trabalho. Assim se as coisas mudarem você já tem rota de fuga!

          Mandando amor pra sua paciência ;) o caminho às vezes parece longo mas é a trajetória mais importante da sua vida!

  4. Minha última ideia radical para cortar gastos foi aproveitar que o DIY está na moda, unir às minhas habilidades em crochê e tricô e fazer minhas próprias roupas… continuo “na moda” por usar roupa artesanal (ninguém precisa saber que fui eu mesma que fiz a roupa), economizo uma boa grana pois roupas de crochê e tricô são caras (então todos acham que paguei caro) e ainda me faz bem pois crochetar e tricotar é uma excelente forma de meditação ativa / terapia.

    1. Michelle, eu amei a sua ideia. Tanto que resolvi tirar minhas agulhas de crochê do armário e aproveitar para fazer algo mais útil com o tempo que passo vendo os jogos dessa copa. Eu comecei a fazer crochê e tapeçaria na pandemia. A combinação de crochê + ouvir podcasts manteve meu bom humor e foi um ótimo passatempo para a época do isolamento social. Obrigada por me lembrar do quanto isso é terapêutico e útil para economizar com roupas ;). Ganhou muitos pontos no jogo do status daqui, rs.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *