Durante minhas sessões de consultoria, frequentemente encontro pessoas que acreditam não haver alternativa para o alto custo de vida. Eu identifico uma espécie de conformismo sempre que ouço “É tudo tão caro, não dá pra viver com menos”.
Mas será que isso é verdade? Será que todos os custos são realmente inevitáveis ou é possível gastar menos sem abrir mão da qualidade de vida?
É evidente que os preços sobem, especialmente em um país com alta inflação como o Brasil. Mas, além dessa inflação oficial, que ajusta o custo dos bens e serviços, existe outra força silenciosa que pesa no bolso: o lifestyle inflation.
Enquanto a inflação econômica está fora do nosso controle e reflete aumentos gerais de preços, o lifestyle inflation é uma escolha, ainda que muitas vezes inconsciente. Ele ocorre quando nossos gastos crescem na mesma proporção que nossos rendimentos, sem que sequer percebamos. Novos hábitos e padrões de consumo passam a parecer naturais, e acabamos nos acostumando a pagar mais do que realmente precisamos, sem questionar.
Desde que comecei a oferecer consultorias, já trabalhei com mais de 50 famílias, e uma das coisas que mais me impressiona é a diversidade de orçamentos. Por exemplo, já acompanhei famílias de quatro pessoas que vivem confortavelmente em São Paulo, viajam todos os anos e administram um orçamento de R$15 mil por mês. Por outro lado, também vi famílias com um estilo de vida muito semelhante, mas gastando impressionantes R$100 mil por mês.
Essa disparidade é a prova de que não é o quanto se ganha que determina sua qualidade de vida, mas sim como se gasta. E isso nos leva a um ponto fundamental: a melhor forma de cortar gastos não é eliminar aquilo que traz bem estar, mas ajustar despesas em áreas onde estamos pagando mais do que o necessário.
E, acredite, isso é mais possível do que parece. Antes de passarmos para exemplos práticos, vamos a uma rápida aula de economia que pode mudar a forma como você enxerga seus gastos.
Como as empresas “capturam” seu dinheiro: o excedente do consumido
Para entender como podemos gastar menos e manter o mesmo padrão de consumo, é importante conhecer um conceito básico da economia: o excedente do consumidor.
Em termos simples, o excedente do consumidor é a diferença entre o valor que estamos dispostos a pagar por um produto ou serviço e o valor que realmente pagamos por ele. Por exemplo, se você pagaria até R$50 para assistir a um filme no cinema, mas o ingresso custa R$30, você “economizou” R$20 — esse é o seu excedente.
Obviamente, as empresas não gostam de ver esse excedente “sobrando” no bolso do consumidor, então elas buscam maneiras de capturar parte desse valor para si, e uma das estratégias mais conhecidas é a discriminação de preços.
A discriminação de preços consiste em cobrar valores diferentes para o mesmo produto ou serviço, dependendo do perfil ou comportamento do consumidor. Um exemplo clássico disso é a meia-entrada nos cinemas. Estudantes, que têm direito ao benefício, pagam menos pelo mesmo filme que uma pessoa sem a carteirinha de estudante. Isso permite que o cinema atraia mais clientes que talvez não pagassem o preço cheio, ao mesmo tempo que mantém o ingresso “inteiro” para quem está disposto a pagar mais.
No Brasil, no entanto, a prática de discriminação de preços é ilegal quando aplicada de forma direta, como cobrar valores diferentes para o mesmo produto sem justificativa. Ainda assim, as empresas encontraram maneiras criativas e legais de contornar essa regra.
Para driblar a proibição, muitas empresas oferecem alternativas como programas de fidelidade, cupons de desconto e parcerias com outras marcas.
Essas estratégias criam um sistema em que o consumidor tem uma escolha:
- Pagar mais e economizar tempo, ignorando cupons e promoções.
- Investir algum tempo para encontrar as promoções e cupons e economizar dinheiro, aproveitando as oportunidades oferecidas.
O resultado? Dois consumidores podem consumir exatamente o mesmo produto ou serviço, como um jantar em um restaurante ou uma passagem aérea, mas um deles gastará consideravelmente menos porque dedicou um pouco de esforço para maximizar seu “excedente”.
E é isso que cria uma oportunidade incrível para quem quer atingir a independência financeira o mais rápido possível: a possibilidade de economizar sem reduzir o padrão de vida.
Afinal, por que pagar mais, se você pode obter o mesmo gastando menos?
Como a Aposentada Não Cede Seu Excedente
Um dos melhores exemplos de como eu não deixo as empresas “abocanharem” o meu excedente como consumidora está no pagamento do meu plano de celular. Na verdade, eu não pago um plano de celular. E mesmo assim eu tenho um celular que me permite fazer tudo o que qualquer outra pessoa faz.
Por muito tempo, fui cliente da Vivo com um plano pós-pago. Tinha uma quantidade de dados, ligações e SMS (quem ainda usa isso?) ilimitados. Escolhi o pós-pago porque achava que o preço no pré-pago era mais caro. Mas, depois de pesquisar, descobri o plano Vivo Easy, que é uma opção muito mais vantajosa. Nesse plano, pago por pacotes de dados que posso usar ao longo do tempo, sem a pressão de ter que consumir tudo até o fim do mês. O melhor: se eu não usar tudo, o saldo de dados fica disponível até eu consumir.
Hoje um plano pós-pago da Vivo com 20GB de internet custa R$130 por mês. No Vivo Easy, consigo comprar 100GB por R$270, ou seja, o mesmo serviço por metade do preço. Mas a história fica ainda melhor. Eu uso, em média, 4GB de dados por mês. E sinceramente, não sei o que alguém teria que fazer para consumir 20GB de internet em um único mês, a não ser que precise resolver um vício sério em dados. Resultado: meu plano de celular custa apenas R$10,80 por mês.
Outro exemplo de como aproveito ao máximo as oportunidades de desconto são os aplicativos de restaurantes. Sair para jantar é uma das atividades favoritas dos paulistas, e embora eu faça poucas refeições fora de casa, quando o faço, gosto de aproveitar ao máximo. Uma das minhas estratégias é usar o aplicativo Duo Gourmet, que oferece a promoção de “dois pratos pelo preço de um” em diversos restaurantes.
Para ter acesso a esse benefício, você precisa pagar, mas aqui vai outro truque: meu marido tem conta no Banco Inter e conseguimos a assinatura do Duo Gourmet de graça, graças à parceria do banco.
Parcerias entre empresas onde somos clientes também são uma excelente forma de manter o excedente do consumidor no bolso. Hoje, um dos benefícios que mais aproveitamos é o par de ingressos para o cinema que recebemos todo mês por sermos clientes do Itaú. Ah, e as bicicletas do Itaú, que adoro usar pela cidade, também têm um preço reduzido para clientes do banco.
Não Seja Inelástico aos Preços!
Outro conceito fundamental da economia (estou numa vibe professora hoje) que vale a pena refletir é a elasticidade aos preços.
Esse conceito mede como o consumidor ajusta a quantidade de bens e serviços que consome conforme o preço muda. Um consumidor muito elástico reage a aumentos de preço diminuindo o consumo do bem ou serviço. Em outras palavras, se o preço sobe, ele tende a comprar menos ou até desistir do produto.
Já um consumidor inelástico não muda tanto seu comportamento diante de aumentos de preço; ele continua comprando, mesmo que o preço suba, porque não vê alternativas ou porque considera o produto essencial. Quando o consumidor é inelástico aos preços, a empresa tem a oportunidade de “roubar” TODO o excedente do consumidor, ou seja, ela consegue aumentar os preços e, muitas vezes, o consumidor aceita pagar sem questionar muito.
Um exemplo clássico de inelasticidade é a escola dos filhos. Muitos pais consideram a educação como uma necessidade básica e essencial, e a opção por uma escola melhor acaba sendo mais importante do que o preço. Mesmo que a mensalidade suba, poucos pais irão trocar de escola ou tentar negociar, justamente porque não percebem uma alternativa viável ou acreditam que a qualidade da educação justifique o custo. Ou seja, a empresa (a escola) consegue aumentar os preços sem perder tantos clientes.
Mas nem todas as situações precisam ser assim! Existem áreas em que você pode ser mais elástico, ou seja, negociar e buscar alternativas quando os preços aumentam. Um exemplo disso são os planos de saúde. Mesmo que seja difícil trocar de plano, você pode sim buscar uma opção mais em conta com um bom corretor e aproveitar a possibilidade de portabilidade de carência.
E, por último, um dos casos mais interessantes que eu tenho reparado ultimamente de inelasticidade é o das viagens internacionais. Durante um período em que o dólar estava mais barato, muitas pessoas começaram a viajar para fora do Brasil com frequência. Agora, com a alta do dólar, muitas continuam fazendo viagens, mas em vez de repensar a escolha ou adiar, acabam parcelando em várias vezes no cartão de crédito, assumindo dívidas que vão se estender por meses. Isso é um reflexo de uma inelasticidade ao preço – as pessoas não querem abrir mão da experiência de viajar, independentemente do custo, e acabam comprometendo o orçamento para isso.
Eu mesma me adaptei a ter viagens internacionais na minha vida e sei como mudar esse hábito é difícil. Mas hoje tenho optado por viajar pelo Brasil, justamente por ser uma alternativa mais econômica. E confesso que tenho me surpreendido positivamente com o turismo local. Outra coisa que eu tenho feito é dedicar horas do meu tempo livre para aprender sobre o mundo das milhas. O que tem me ajudado a fazer viagens internacionais sem estourar o orçamento.
A lição é clara: não seja inelástico aos preços. Ao ser flexível e buscar alternativas, você consegue manter o controle do seu dinheiro e tomar decisões financeiras mais inteligentes, sem abrir mão do que é importante para você.
Gamificando Suas Finanças
Eu dei alguns exemplos básicos aqui, e tenho certeza de que vou lembrar de muitos outros depois que esse post for publicado. Ficarei supergrata se puderem compartilhar nos comentários mais exemplos de coisas que vocês conseguem pagar menos que todo mundo.
Uma cliente me contou recentemente que gosta de “gamificar” a vida. Por exemplo, se ela quer emagrecer, ela transforma isso em um jogo: tira fotos das comidas que deixou de comer, mantém um calendário com a contagem de dias em que se manteve firme e ainda se dá bonificações ao atingir metas.
Eu amei essa ideia e, de certa forma, aplico isso no meu orçamento pessoal. Tenho bem definidas as metas de gastos para as principais categorias da minha vida. E sempre que consigo desviar do padrão e gastar menos, fico superfeliz ao registrar um valor menor na planilha. Durante a jornada para a Independência Financeira (IF), esse valor ganhava ainda mais valor porque se traduzia em meses — ou até anos — a menos de trabalho.
Não caio nessa “pose derrotista” de que viver é caro, de que somos apenas consumidores passivos que não têm alternativas. Elas existem, sim! Requerem atenção e, às vezes, um pouco de trabalho extra.
Mas lembre-se: quando a meta é a liberdade financeira, cada economia de dinheiro compra o bem mais escasso do mundo de volta: o seu tempo!