Pequenas economias, grande fortuna

Existe quase que uma disputa entre os gurus de finanças hoje em dia. De um lado, tem os tipos que dizem que o problema das pessoas deriva dos custos fixos elevados: morar em um lugar mais caro do que deviam, ou dirigir um carro luxuoso que não condiz com sua conta bancária. De outro, tem os que pregam economizar cada real que você puder e vê-los crescer exponencialmente através da mágica dos juros compostos.

Eu sou defensora fiel da primeira estratégia. É praticamente impossível ter custos fixos de menos de 30% do seu salário e não conseguir poupar uma montanha de dinheiro por mês. Manter os custos fixos baixos te coloca num caminho certo para a prosperidade financeira.

Mas eu não consigo ignorar a segunda estratégia. Eu amo ver como pequenas economias no dia a dia se transformam em verdadeiras fortunas com o passar dos anos.

O problema é que nossa mente não consegue fazer essa conta de cabeça. A gente se engana pensando “mas são só 20 reais!”.

Só que não são. Se pelo menos uma vez por dia você topar pagar “só 20 reais”, você está abrindo mão de milhões daqui a alguns anos.

Se você conseguir poupar 20 reais por dia, isso representa um montante de 600 reais por mês.

E se você investir esses 600 reais que sobram todo mês por conta da sua nova mente que não pensa mais “são só 20 reais”, aí a coisa começa a ficar realmente divertida (e milionária!). Se você investir a uma taxa de juros de 10% ao ano*, em 10 anos você teria 120 mil reais investidos.

E se você criar o hábito de parar de pensar “são só 20 reais” todos os dias, por 30 anos, e investir o que sobrar dessa simples decisão, então você conseguirá acumular uma fortuna mágica de 1,2 milhões de reais.

Só por conta dessas economias “bestas” você se tornou um milionário!

Os 20 reais diários se tornaram em milhões de reais graças à mágica dos juros compostos (que se você já está familiarizado, pode pular para a próxima sessão do texto!).

A mágica dos juros compostos

Eu já falei sobre a mágica dos juros compostos aqui, mas ela é tão importante que vale fazer um lembrete.

A melhor metáfora para explicar os juros compostos é através daqueles jogos de dominó. Você derruba uma peça, aí a próxima cai em cima dela, e assim por diante. Depois de um tempo, você derrubou dezenas de peças, começando a derrubar apenas uma.

E é exatamente isso que acontece quando você investe seu dinheiro e ganha juros. Todo investimento entra na lógica dos juros compostos. Essa lógica é a seguinte: quando você investe, além de ganhar juros sobre o dinheiro inicial, você também começa a ganhar juros sobre os juros que já foram acumulados. É como se o dinheiro que você ganhou de juros se tornasse parte do bolo para os cálculos dos próximos juros.

Complicou? Vamos simplificar…

Digamos que você investiu R$ 100 a uma taxa de 10% ao ano. No primeiro ano, você ganha R$ 10 de juros (10% de R$ 100). Agora, no segundo ano, além de ganhar juros sobre os R$ 100 iniciais, você também ganha sobre os R$ 10 que já tinha ganhado no primeiro ano. Então, em vez de ganhar R$ 10 de novo, você ganha R$ 11 (10% de R$ 110).

Esse ciclo continua se repetindo, e a mágica dos juros compostos acontece quando você deixa o tempo trabalhar a seu favor. Quanto mais tempo seu dinheiro fica investido, mais ele cresce, porque os juros vão se acumulando e gerando mais juros.

É tipo um “efeito bola de neve” financeiro, onde o dinheiro vai aumentando como uma bola de neve rolando morro abaixo. E é por isso que os juros compostos são tão poderosos quando se trata de fazer seu dinheiro render. Basicamente, é o seu dinheiro trabalhando e multiplicando por conta própria ao longo do tempo.

E é assim que os juros compostos fazem a mágica acontecer no mundo dos investimentos!

E como conseguir poupar 20 reais por dia?

Como comentei no início do texto, entre os que defendem ser sagaz com os custos fixos e os que defendem economizar no cafezinho depois do almoço na Faria Lima (que eu já vi gastarem 20 reais… eu sei, é chocante), eu digo: quero os dois!

Meu caminho FIRE foi possível graças a manter meus custos fixos bem baixos.

Mas eu não estou em condições de ignorar um milhão de reais. Então ainda faço as minhas pequenas economias diárias com um sorriso no rosto sabendo que é isso que me garante um milhãozinho a mais na conta daqui alguns anos.

Eu poderia dar dezenas de exemplos de momentos em que eu economizo os 20 reais que a maioria está acostumada a dizer “são só 20 reais!”. Mas vou dar os 3 que eu mais me orgulho, e que eu faço recorrentemente.

O primeiro é a minha simples recusa de pedir um Uber logo de cara. Minha decisão de transporte é sempre nessa ordem: ir a pé, ir de bicicleta, ir de metrô ou trem, ir de ônibus e só em último caso, eu vou de Uber.

Ir a pé é de graça. E ir de bicicleta custa 160 reais por ano porque eu uso a bicicleta do Itaú, o que me custa menos de 1 real por dia.

Metrô, trem e ônibus em São Paulo custam 4,40 reais por trecho. E com integração gratuita. Quando estou com meu marido, nós nunca fazemos a conta de “vale a pena pedir um Uber”. Se o Uber custa menos de 10 reais, isso significa que é uma distância curta o suficiente para nós irmos a pé.

Eu já bati tanto nessa tecla do transporte público com as minhas amigas que recentemente uma delas veio me mostrar toda orgulhosa a sua mais nova conquista: um bilhete único. Eu fiquei feliz duplamente. Primeiro por saber que ela está no caminho para se tornar uma senhora milionária. E segundo porque eu conquistei um lugar único de prosperidade em que tenho amigos que ostentam um bilhete único ao invés de um carro!

O segundo exemplo é com alimentação. Cada vez que você opta por cozinhar o que tem em casa ao invés de ceder à fraqueza de pedir um Ifood, você facilmente economiza 20 reais (provavelmente mais!).

Eu sei que muita gente pensa “eu estou voltando do trabalho cansado, eu mereço pedir um Ifood e receber uma comida quentinha e saborosa em casa!”, mas eu gostaria que você pensasse de uma forma muito mais audaciosa (e inteligente). Você deveria pensar “eu voltei do trabalho cansado, então vou cozinhar a minha própria comida, economizar muito dinheiro, atingir minha independência financeira e cortar o mal (o cansaço) pela raiz (o trabalho!).”

Talvez o meu maior motivo de orgulho dentro dessa categoria é a comida japonesa. Eu sou fã de sushi. Eu sou do tipo que sente falta de comer um sushi, e se tem uma coisa que eu sofri durante o meu sabático viajando por cidades minúsculas no Brasil foi a falta do sushi.

Eu não sei fazer, então compro sushi pronto. Mas aqui vem o pulo do gato: eu compro no supermercado! E sempre que eu vou no supermercado perto da minha casa que vende um combinado delicioso por 30 reais, eu passo em frente a uma unidade do Aoyama lotada de pessoas que toparam pagar 140 reais por um rodízio de sushi. Eu quase não consigo evitar a minha alegria de saber que terei o mesmo prazer de comer comida japonesa por 110 reais a menos!

O último exemplo é com a limpeza da minha casa. Uma vez eu ouvi que brasileiro confunde higiene com vaidade, e achei que essa frase acertou em cheio. Minha experiência morando fora só confirmou isso. A gente é pobre, mas é limpinho. É motivo de orgulho dizer isso.

O problema é quando a gente não tem tempo para manter essa vaidade, ops, limpeza em excesso por conta própria e precisa contratar alguém para fazer o serviço.

Uma vez eu atendi um casal na consultoria que tinha uma renda líquida conjunta de 25 mil reais líquidos. Ou seja, um dia de trabalho deles gerava uma renda de R$1.250,00 (25mil dividido por 20 dias úteis por mês). Nada mal. Só que eles gastavam R$2.500,00 por mês com uma empregada doméstica que ia todo dia fazer limpeza na casa deles. É impossível que a casa deles necessite de uma limpeza pesada todos os dias. Então eles basicamente trabalhavam 2 dias por mês para garantir que a casa deles não tivesse um único fio de cabelo no chão, zero respingos de pasta de dente no espelho do banheiro e nem uma única gota de gordura na pia da cozinha. Detalhes importantes, claro, mas vale 10% da sua renda? 2 dias de trabalho todo mês? 5 anos de vida se você trabalhar por 50 anos?

Eu faço limpeza pesada na minha casa uma vez por mês. E umas duas vezes por semana, eu varro o chão. Isso poderia ser facilmente otimizado com um robô aspirador, mas ainda acho que é muita folga para um apartamento de 27m2. A louça é lavada a cada refeição, e é o momento de treinar meus vocalizes de canto (ah, a alegria de eficiência). E tolero sem maiores desesperos os respingos de pasta de dente no espelho do banheiro por alguns dias, até que eu vença a preguiça de passar um limpa-vidro com papel toalha no espelho, trabalho que me toma menos de 1 minuto.

Eu tenho certeza que você consegue poupar 20 reais por dia só com os exemplos que eu citei acima: evitar pedir Uber, não pedir Ifood e tolerar um intervalo maior de limpeza na sua casa!

E se um dia você se perguntar por que ainda não se tornou milionário, a resposta pode estar no simples “são só 20 reais!”.

*Para os defensores das contas com juros reais (descontando a inflação), os montantes seriam 100 mil em 10 anos e 600 mil em 30 anos. É o jeito mais certo de fazer a conta, mas eu optei por uma licença poética para falar que essa é uma decisão de um milhão de reais (o que não deixa de ser, nominalmente).

10 respostas

  1. Acredito que é muito importante evitar alguns gastos diários, faço muito isso, mas não comento publicamente, a maioria das pessoas em nossa volta não estão preparadas pra isso. Alguns gastos fixos reviso anualmente (internet e plano de celular) em caso de aumento e encontre opções melhores. Um site legal pra isso é o melhorplano.net. Há 2 anos não temos diarista, apto de 52 metros quadrados. O equilíbrio na nossa jornada é importante, andamos devagar, mas sempre andamos. Em maio faremos uma viagem internacional de 15 dias, vão achar que estamos ricos, mas nada, só abrimos mão de algumas coisinhas pra viver isso. Muito bom o seu blog, obrigado e parabéns, continue o bom trabalho.

    1. Mais uma vez um texto inspirador. Que delícia ser um de seus leitores :)
      Eu nunca tive muitos problemas com relação a essas economias menores, sempre me surpreendi em como as pessoas banalizam esses pequenos gastos que no fim não agregam nada(ou muito pouco) a qualidade de vida delas, vide o deslocamento com Uber.
      Minha maior dificuldade no entanto é com a redução dos gastos fixos, porque uma vez incorporados a rotina é muito difícil remove-los, aqui de longe meus maiores custos são com o moradia(ainda que esteja longe de ostentação) e plano de saúde, mas consigo manter uma poupança elevada e em breve espero poder me juntar ao grupo dos aposentados

  2. o que preocupa é juntar pequenos gastos , que não necessariamente são diários, talvez um café com um amigo na sexta, um almoço no sabado ou com a familia um almoço fora domingo, e depois juntar e não viver coisas simples de boas companhias
    e depois acontecer algo morrer e não viveu nem coisas simples prazerosas porque foi juntar até um café na quinta e na sexta com amigos por exemplo

    1. o segredo da jornada FIRE é o equilíbrio.. e isso inclui ter um orçamento pre-determinado disponivel para o lazer, com coisas que fazem sentido para vc

  3. Seus textos são sempre ótimos. Inspiradores e objetivos ao mesmo tempo.
    Eu e minha companheira temos uma renda líquida combinada de cerca de 20 mil por mês. Temos finanças separadas, mantemos os custos baixos* e investimos mensalmente cerca de 70% dessa renda. Nossa independência financeira é questão de tempo, creio que mais uns 5 ou 6 anos.

    * sei que, na verdade, esses custos são baixos para a nossa renda, mas ainda são altos para boa parte da população brasileira.

  4. Que texto legal e de leve compreensão, confesso que costumo subestimar os 20 reais diários. Acho que, quanto mais bacana é nosso salário (é o meu caso) menos importância a gente dá para os “20 reais”, isso é a bendita mania e não olhar o longo prazo e não fazer conta. Realmente a torneira fica aberta e um caminhão de dinheiro vai embora, tudo isso embaixo do nosso nariz.

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