Caros leitores, minha ausência no blog nas últimas semanas teve um motivo muito nobre. Ainda estou na fase de realizar os sonhos da minha vida de aposentada. Já viajei pelo Brasil durante um ano, morei três meses em Paris e agora realizei mais um sonho: fiquei um mês em Orlando, a terra do Mickey.
Minha paixão pela Disney é realmente isso: uma paixão. É irracional e avassaladora. Mas é o meu escapismo favorito, e embora tenha vontade de morar lá por um tempo, morro de medo de que a intimidade mostre uma face menos sedutora. Gosto do nosso estilo de flerte. Volto lá a cada dois anos, vivo experiências artificiais e de conto de fadas, que tornam meu retorno à vida real ainda mais gratificante. Saber que sempre terei a terra do Mickey como um refúgio dá mais graça ao meu cotidiano. Você provavelmente tem o seu escapismo também.
Às vezes, me pego pensando em como essa paixão contradiz tudo o que eu prego sobre finanças. Entre todas as viagens que faço, essa é uma das mais caras. Não tanto pelos voos ou pelos hotéis, mas principalmente pelos ingressos dos parques e pela alimentação. Por isso, aprender formas de manter esse escapismo na minha vida sem comprometer o orçamento é essencial.
Foi isso que me motivou a entrar no mundo das milhas. Sempre tive preguiça de aprender sobre o assunto e, confesso, tinha muitos preconceitos. Até que, em um vídeo de um Youtuber que vende cursos sobre como viajar com milhas (curso que eu não fiz), ele disse algo que me marcou: “Faça um bom planejamento antes de se aventurar no mundo das milhas e veja se faz sentido para você.”
Bom, planejamento é comigo mesma, especialmente quando envolve números. Seria fácil comparar uma viagem para a Disney com ou sem milhas. Afinal, já sou praticamente uma especialista em planejar viagens para lá, então as contas e comparações seriam simples, e eu poderia concluir se valeria a pena. E a conclusão foi que, sim, valeu muito a pena quando tirei o plano do papel e coloquei em prática. Mas houve uma curva de aprendizado, e abaixo compartilho tudo o que aprendi com essa experiência.
Um cartão de crédito especial
Eu consumo muito conteúdo de blogs de finanças pessoais dos EUA. Por lá, há uma verdadeira farra de bonificação de cartões. Por exemplo, você pode contratar um cartão de crédito do banco Chase e, ao gastar 3 mil dólares nos primeiros três meses, ganhar 100 mil milhas — o suficiente para uma passagem de ida e volta para a Europa.
É por isso que muita gente diz que viaja “de graça” por lá. Afinal, gastar 3 mil dólares em três meses parece fácil, mesmo para quem é mais frugal.
Mas, ao pesquisar as bonificações disponíveis no Brasil, percebi que elas são bem menos generosas. O cartão que achei mais vantajoso foi o Azul Visa Infinite do Itaú, que oferecia um bônus de 90 mil milhas (na época em que eu fiz, hoje o bônus é até menor), mas exigia um gasto de R$ 60 mil nos primeiros três meses — ou seja, R$ 20 mil por fatura. Uma quantia bastante alta!
Ainda assim, decidi me aventurar com esse cartão. O motivo? No começo do ano, nos mudamos para um apartamento novo e, como decidimos deixar o antigo mobiliado para alugar, precisaríamos comprar móveis novos. Isso já ajudaria bastante a atingir a meta. Além disso, já estávamos planejando comprar 3 passagens para Portugal para uma viagem que fizemos em abril.
Veja bem: em fevereiro, já estava planejando a viagem para novembro. Sim, planejamento e antecedência são essenciais para economizar em viagens!
Você precisa comprar as milhas
Bom, como as bonificações generosas não existem no Brasil, sempre que ouvia alguém dizer que viajou com milhas, pensava: “Essa pessoa deve gastar muito dinheiro no cartão de crédito!” Afinal, quando eu simulava uma viagem para os EUA, percebia que o custo médio seria de 120 mil milhas ida e volta. Mesmo com um cartão que acumula 2 milhas por dólar, isso significaria gastar 60 mil dólares (ou R$ 300 mil) para acumular milhas suficientes. Algo bem fora da realidade da aposentada aqui.
Mas isso era pura ignorância minha. A verdade é que você pode comprar milhas com desconto. E, embora isso não signifique viajar “de graça”, pode significar viajar por um preço bem mais baixo.
Essa foi, sem dúvida, a melhor sacada da minha experiência com milhas.
Fique atento às datas especiais
Mas não basta entrar no site das cias aéreas e comprar as milhas. Você precisa fazer isso nas datas especiais.
Existem vários sites que mostram as melhores datas para comprar milhas nas companhias aéreas. Mas, geralmente, as melhores oportunidades são durante a semana do consumidor, em março (uma semana que só descobri por meio das minhas pesquisas sobre milhas), e a Black Friday, em novembro. Eu entrei para o grupo do Telegram Melhores Cartões e comecei a acompanhar essas promoções de compra de milhas.
Ah, e uma dica fundamental: concentre seus esforços em uma única companhia aérea. Eu escolhi a Azul, por causa do cartão que adquiri. Mas ainda estou longe de ser uma expert nesse meio para afirmar se foi a melhor escolha. Só sei que foi boa o suficiente e gerou uma economia considerável.
Na semana do consumidor, a Azul fez uma promoção em que, ao comprar milhas, você recebia 300% de bônus. Ou seja, comprava 1 milha e ganhava 4 — um desconto de 75% no custo das milhas. Nessa promoção, o preço do milheiro saiu por R$ 15,75, um excelente valor, como aprendi depois.
Ah, e para ganhar ainda mais milhas, assinei o Clube Azul, que também oferece bônus por um custo de R$ 18,58 por mês. Um valor mais alto, mas que compensou, no final das contas. Vou explicar melhor mais adiante.
Como já havia feito minha pesquisa prévia, sabia que, para a viagem à Disney, eu precisaria de mais de 1 milhão de milhas se quisesse cobrir passagens, hotéis e ingressos de parque. Durante a promoção, o máximo que consegui comprar foi 200 mil milhas, que se transformaram em 800 mil milhas, devido ao bônus.
Foi um desafio comprar tantas milhas de uma vez. O valor da compra foi de R$ 12,6 mil. Mas encarei o desafio e fiz a compra. Depois, percebi que cometi o erro de não usar o CPF do meu marido para comprar ainda mais milhas durante o período de bonificação.
O bom é que, no mesmo dia, a Azul estava oferecendo um desconto de 15% nas reservas de hotéis.
E foi assim que meu encantamento pelo mundo das milhas começou. Com esse desconto, consegui reservar um hotel por 3 semanas, por 370 mil milhas. Como paguei R$ 15,75 por cada milha, o custo foi de R$ 5,8 mil. E quanto teria custado o mesmo hotel no Booking.com, com o meu desconto de Genius? R$ 10,1 mil! Ou seja, só no hotel consegui uma economia de 43%.
Comprando as passagens
Cometi um erro de principiante: fechei o hotel antes das passagens. E, para a Disney, as passagens são mais difíceis de conseguir. Mas consegui reverter esse erro.
Ao pesquisar passagens para Orlando no site da Azul, os preços eram absurdamente altos, mesmo com o custo das milhas. Não compensava.
Porém, a Azul tem outro site — o Azul pelo Mundo — que, apesar de ter um sistema um tanto irritante, permite emitir passagens de outras companhias aéreas com milhas. Para isso, é necessário entender como buscar passagens no site da United, o que facilita a busca no site da Azul. Segui esse passo a passo e deu certo.
Consegui encontrar passagens para Orlando, no sistema “Award”, por 269 mil milhas (67 mil milhas por trecho, por pessoa), mais R$ 564 de taxas de embarque. Considerando o valor que paguei pelas milhas, isso significaria R$ 4,8 mil para ida e volta para duas pessoas. Na época, o menor valor encontrado foi de R$ 6,8 mil. Ou seja, uma economia de 29%. Não tão boa quanto nos hotéis, mas ainda assim, uma boa economia.
Milhas orgânicas ajudam a reduzir o custo do milheiro
Antes de falar sobre os ingressos, preciso compartilhar como o meu custo final com as milhas foi ainda mais reduzido.
Eu e meu marido decidimos concentrar todos os nossos gastos no cartão de crédito da Azul, que oferece 3 milhas por dólar gasto. Esse cartão tem uma anuidade de R$100 por mês, que só pode ser isenta se você gastar R$20 mil mensais. Claro que só conseguimos isso nos primeiros três meses. Depois, entrei em contato com a central de cartões do Itaú pelo WhatsApp e consegui reduzir a anuidade para R$70 mensais.
Além disso, geramos milhas “orgânicas” com as compras do dia a dia, ou seja, milhas que acumulamos de forma espontânea, além das 90 mil milhas de bônus, que custaram R$630 do valor da anuidade.
Outra estratégia foi aproveitar os pontos Livelo. Focamos em fazer compras online, inclusive supermercado, para acumular pontos Livelo. Acabei me inscrevendo no clube Livelo numa promoção que me permitiu adquirir o milheiro por R$27,27. À primeira vista, isso pode parecer um valor alto, mas os pontos Livelo valem mais do que os da Azul. Na prática, com a bonificação de 80% nas transferências para a Azul, 1 ponto Livelo vale 1,8 pontos Azul. Assim, paguei efetivamente R$15,15 por milheiro.
Essas milhas orgânicas reduziram consideravelmente o meu custo final. Somando o bônus do cartão, as milhas acumuladas e os pontos Livelo, meu custo final por milheiro foi de apenas R$13,50. Isso já considerando todos os custos envolvidos: as milhas compradas, a anuidade do cartão e as assinaturas do clube Livelo e Azul.
Resultado: meu hotel na verdade custou R$5 mil (uma economia de 51% em relação ao preço do Booking), e as passagens, R$4,2 mil (uma economia de 38%). A economia total já começa a ser significativa!
Os ingressos: o desconto inesperado
Agora, vamos falar sobre os ingressos para os parques – o verdadeiro desafio da viagem. Como mencionei, passagem e hotel para a Disney são relativamente mais baratos comparados a outras viagens internacionais. O grande vilão do orçamento é o preço dos ingressos. E conseguir descontos neles é praticamente uma missão impossível, já que tanto a Disney quanto a Universal raramente oferecem promoções.
Mas, pelo site da Azul, consegui emitir ingressos para 4 dias na Universal por 190 mil milhas para duas pessoas. No site da Universal, esse ingresso estava sendo vendido por US$672 – ou R$3,7 mil, considerando um câmbio de 5. Mas o custo com as milhas? Apenas R$2,6 mil. Ou seja, uma economia de 30%! Algo que eu nunca imaginei ser possível.
Poderia ter comprado ingressos da Disney também, mas eu queria um ingresso de 10 dias (sim, fui 10 vezes aos parques!). No entanto, esses ingressos custavam mais de 270 mil milhas por pessoa, e eu não tinha milhas suficientes. Foi aí que percebi a falha: eu poderia ter comprado mais milhas utilizando o CPF do meu marido. Mesmo com o custo por milheiro mais alto, provavelmente ainda conseguiria um desconto de 17% nesses ingressos.
Em resumo: economia de mais de R$8mil
2024 está acabando e, embora eu não tenha comprado o Adidas Samba nem ido ao Chile, eu aprendi a sobre milhas!
Este não é um post que garante que você conseguirá reproduzir os mesmos resultados que eu. No entanto, senti falta de exemplos práticos enquanto pesquisava sobre como viajar para a Disney com milhas. Então, aqui está o meu relato!
As promoções e as regras dos programas de milhagem, bem como dos cartões de crédito, estão sempre mudando. Por isso, vale a pena acompanhar os sites especializados para garantir que você está comprando as milhas no momento certo e escolhendo a companhia aérea que melhor se adapta ao seu tipo de viagem.
No ano que vem, já tenho passagem para a Europa, inclusive com um trecho em classe executiva para mim e para o meu marido (minha primeira vez, estou super empolgada!), graças a esse cartão da Azul. No entanto, demos sorte, pois as regras mudaram e, se tivéssemos feito o mesmo processo este ano, não conseguiríamos mais.
Ainda tenho muito a aprender sobre milhas, e aceito sugestões para acelerar minha curva de aprendizado!
Um ponto de alerta para quem está começando: é preciso tomar cuidado com o emocional ao comprar milhas. Eu acabei comprando menos do que realmente precisava, o que foi bom. Comprar milhas demais pode ser um erro, já que, se elas expirarem, você terá jogado dinheiro fora. O segredo é o planejamento (e, na verdade, o planejamento é a chave para o sucesso em quase tudo na vida, não é?).
Abaixo, deixo um resumo da economia que consegui com a utilização das milhas para a viagem:
Viagem sem milhas (para duas pessoas):
- Passagem: R$6,8 mil
- Hotel: R$10,1 mil
- Ingressos da Universal: R$3,7 mil
TOTAL: R$20,6 mil
Viagem com milhas (para duas pessoas):
- Passagem: R$4,2 mil
- Hotel: R$5 mil
- Ingressos da Universal: R$2,6 mil
TOTAL: R$11,8 mil
Economia total: R$8,8 mil!
Depois de uma série de posts filosóficos, aqui está um post mais prático sobre como gastar menos. Consegui realizar meu sonho de ir para a Disney com milhas, otimizei meu orçamento e aprendi muito ao longo do caminho. Espero que o relato tenha sido útil para quem também tem esse sonho ou deseja aprender mais sobre como tirar o melhor proveito do programa de milhagem.
Este é provavelmente o último post do ano. Vou aproveitar as festas de final de ano para curtir os amigos que estarão por aqui (aqueles que moram fora de São Paulo) e as férias da minha afilhada, que, como sempre, promete ser uma alegria. Mas fiquem tranquilos, estarei de volta em 2025 para compartilhar mais aprendizados com vocês.
Desejo a todos um final de ano tranquilo, cheio de momentos de descanso e reflexão. Que 2025 traga novas oportunidades para continuar construindo a vida dos sonhos, com mais liberdade, e a satisfação de ver a conquista da independência financeira se tornando realidade. Que o próximo ano seja ainda mais leve, com menos gastos e, claro, mais passos em direção à aposentadoria antecipada para quem ainda está nesse caminho!
8 respostas
Olá Lilian, mais uma vez me identifico demais com as coisas que vc fala…. também tenho essa paixao “irracional e avassaladora” quando se trata de parques temáticos (disney e Universal). Também mantenho isso como uma forma de despertar aquela senso de deslumbramento da criança interior que recuso a deixar morrer. Encontro dificuldade em convencer outras pessoas do quao legal é uma viagem a Orlando (engraçado, perece que as gerações mais jovens atualmente gostam de “esnobar” essa experiencia) Enfim… adorei seu relato.. e fiquei muito curioso em relç,aão ao fato de vc ter falado em outro post que ia usar transporte público para chegar nos parques.. Precisa compartilhar isso!! Eu achava que era impossivel. Abraço!!
Uma alegria desse ano foi encontrar o blog (por meio do podcast precisamos falar de dinheiro).
Vida longa ao blog!
Boas festas e feliz ano novo.
Você é sempre um espetáculo a parte, que delícia ler seus posts e sempre aprender com você.
Feliz 2025 cheio de saúde, sonhos e realizações.
Belo relato. IG que mais gosto sobre as milhas são @queronafaixa (Do Augusto, funcionário do Banco Central) e do @HeronAlonso
Excelente post, estou programando uma viagem para a Califórnia e já comprei as passagens, mas nem pensei que poderia buscar os hotéis e ingressos com milhas. Não que eu tenha muitas milhas, mas realmente comprá-las pode ser uma opção vantajosa!
Obrigada por compartilhar a tua sabedoria – tanto prática quanto filosófica! – e ótimas festas!
Excelente! Parabens :)
Arrasou! Orgulho da sua inteligência, sabedoria e determinação!