Vamos analisar um mercado de ações bem famoso, de uma economia também bem famosa. Abaixo está o gráfico do Dow Jones (índice de bolsa dos EUA) desde 1915. A evolução desse índice é bem impressionante. Se o seu bisavô tivesse comprado $71mil em ações em 1915, hoje a sua família já teria uma fortuna de cerca de $30milhões. 

É claro que $71 mil em 1915 era muito dinheiro, então vamos ajustar pela inflação, como o gráfico abaixo. 

Assim, se o seu bisavô tivesse o equivalente hoje a $2 milhões aplicados na bolsa em 1915, então a sua família já seria 15x mais rica que o seu bisavô. Mesmo que ele tivesse tido dois filhos (dentre eles seus avós), que tivessem tido dois filhos cada (dentre eles seu pai) e que tivessem tido dois filhos cada (dentre eles você), a fortuna do seu bisavô dividia entre os 14 descendentes ainda seria mais de $2 milhões para cada. Ou seja, todos os descendentes poderiam não trabalhar e ainda contar com uma fortuna igual à de seu bisavô, só porque ele investiu na bolsa de ações (tudo isso ajustado a preços de hoje). 

E por que isso acontece? Basicamente por três razões. A primeira é que empresas geram riqueza, a segunda é que o mercado é autolimpante e a terceira é o viés de alta do mercado. 

Empresas geram riqueza

Por trás do mercado de ações existem empresas. E empresas geram riqueza. Quando você compra uma ação de uma empresa, você vira sócio dessa empresa. Isso significa que você ganha quando essa empresa desenvolve uma tecnologia nova, quando seus funcionários põem em prática ideias criativas e quando competem por fatias do mercado.

Além disso, quando os preços das mercadorias vendidas sobem, as receitas da empresa sobem e você, como sócio, fica protegido da inflação. 

Comprar ações de empresas é muito diferente de, por exemplo, comprar ouro. O ouro tem seu valor atrelado a sua escassez e ao fato de que as pessoas acreditam que uma pepita de ouro é valiosa. Não há geração de riqueza por trás do ouro. Não há um Steve Jobs ou um Bill Gates gerando valor para a humanidade. E se as pessoas deixarem de acreditar na narrativa de que o ouro é valioso, então ele perde seu valor. 

Mas as empresas também vão à falência quando deixam de produzir algo valioso para a sociedade. E isso explica a segunda razão do porquê o mercado de ações como um todo sempre sobe. 

O mercado é autolimpante

O gráfico acima é de um índice que é composto pelas empresas com maior valor de mercado. Se essa empresa perde seu valor, então ela deixa de compor o índice de mercado. Isso faz com que os índices sejam autolimpantes, e sempre eliminam as empresas que estão perdendo valor. 

Para você ter uma ideia de como esse processo evolui, das 30 ações presentes no Índice Dow Jones em 1915, nenhuma está presente na composição atual do índice. A última a sair foi a GE em 2018. Analisar a evolução das empresas que compunham esse índice é bem interessante. O exemplo que eu mais gosto é a substituição da Kodak (empresa analógica) pela Verizon (empresa de serviços digitais) em 2004. Enquanto o mundo foi se tornando mais digital, a Kodak perdeu seu valor de mercado e foi automaticamente substituída por outra empresa que estava valendo mais, a Verizon. 

O mercado tem um viés de alta

Qual o pior resultado possível quando você compra uma ação? É perder tudo que você investiu. Isso significa que você não pode perder mais do que 100%. 

Mas qual o maior resultado possível? Não tem limite! Você pode ganhar 100%, 500%, 1.000%, ou até mais. Um caso emblemático recente no Brasil foi a ação da empresa Magazine Luiza, que rendeu 47.000% entre 2015 e 2018. 

Quando você investe no mercado de ações como um todo, você compra ações de algumas empresas que podem virar pó – ou seja, perder 100% do seu valor – mas também está exposto a ações que podem ver o seu valor subir uma infinidade de vezes. O resultado disso é um viés de alta no mercado como um todo. Mas isso só vale se você investir no mercado como um todo. Ou seja, funciona quando você compra um ETF de índice, mas não funciona quando você compra ações individuais.

Então por que as pessoas ainda perdem dinheiro na bolsa?

Apesar do mercado de ações sempre subir no longo prazo, ele enfrenta diversas oscilações no curto prazo. Se você reparar bem no gráfico 2, apesar da clara tendência de alta, alguns períodos foram bem difíceis para o seu bisavô – ou quem quer que herdasse as ações dele. Só nas duas últimas crises recentes, a pandemia em 2020 e a crise financeira de 2008, o mercado de ações chegou a acumular mais de 30% e quase 50% de perdas, respectivamente. 

Agora imagine você, com $2 milhões investidos em bolsa acumulando uma perda de 50% em algum dado momento. Isso significaria que os seus $2 milhões cairiam pela metade. E que isso pode acontecer em um breve período, como em poucos dias ou meses. Como você reagiria? 

Se você for um investidor mediano, provavelmente você venderia suas ações, e traria o $1 milhão de volta para um fundo DI no Brasil para garantir que você não perdesse o que sobrou. Mas aí você estaria de fora do mercado e não recuperaria os $2 milhões. Talvez você até voltasse mais tarde, quando na verdade o mercado já estava se recuperando. Só que aí já seria tarde demais e você provavelmente recuperaria apenas parte da sua perda. 

Isso é o que a maioria dos investidores faz no mercado de ações. Vende quando o mercado está caindo (ou seja, vende barato) e compra quando o mercado está subindo (ou seja, compra caro). E é por isso que tanta gente perde dinheiro investindo em ações apesar do mercado sempre subir. 

A gente acha que pode “operar” o mercado. Vender na alta, e comprar na baixa. Mas isso está longe de ser a realidade para a maioria. Um famoso estudo da corretora norte-americana Fidelity Investments revelou que entre 2003 e 2013, os melhores investidores foram os que estavam mortos durante esse período. O segundo melhor grupo foi de investidores que esqueceram que tinham a conta na Fidelity. Isso significa que se você quiser ter sucesso no mercado de ações, tem que “esquecer” seus investimentos. 

Mas isso é muito difícil de fazer porque nosso software humano é atraído por notícias pessimistas. Se você estudar minimamente as estratégias das mídias tradicionais vai perceber que elas focam naquilo que atrai a sua atenção. E gurus de investimento prevendo uma nova crise no mercado financeiro atrai a atenção de milhões de pessoas. Ninguém resiste a uma matéria que prevê um colapso financeiro.

Se você aprender a ignorar essas notícias, e não tentar operar o mercado, então é mais provável que você ganhe dinheiro com o mercado. E na próxima crise, quando a bolsa cair 30%, no máximo você vai achar que é uma boa oportunidade de ir às compras (de ações é claro, e não de consumo!). 

A melhor estratégia para ganhar dinheiro no mercado de ações é comprar o mercado de ações como um todo e não vender na crise. O famoso “buy and hold”. Na verdade, o melhor é não vender nunca, só ir acumulando ações na carteira e deixar para viver do rendimento delas durante a sua aposentadoria. E a melhor forma de comprar o mercado de ações é investindo através de fundos de índice, como os ETFs que eu explico no próximo post.

O mercado de ações brasileiro também sempre sobre?

A resposta é sim. Afinal de contas, as empresas brasileiras também estão gerando riquezas para a sociedade e também sobem seus preços com a inflação. Por construção, o Ibovespa é um índice autolimpante. E por uma questão estatística, o mercado de ações brasileiros também tem um viés de alta.

Ainda assim, eu prefiro aplicar a minha teoria do “mercado de ações sempre sobe” investindo no mercado de ações lá fora. A principal razão para isso são as taxas ainda atraentes da renda fixa no Brasil. Como eu disse anteriormente, a previsibilidade de retorno é a melhor parceira de quem quer viver de renda. E a renda fixa é a única com retorno futuro garantido.

Enquanto a renda fixa pagar juros altos, eu não pretendo migrar meus investimentos para renda variável no Brasil. Mas assim que a renda fixa deixar de ser atraente, eu ficaria confortável em ter Ibovespa na minha carteira.

Essa discussão de que o mercado de ações sempre sobe é importante para eu explicar a minha estratégia de investimentos no exterior. Mas isso fica para o próximo post.