Consumo sustentável por toda a vida

Hoje eu quero falar sobre consumo sustentável. E se você revirou os olhos ao ver esse termo porque está cansado dos ambientalistas dizendo o que você deve ou não fazer, eu entendo. Muitas vezes, parece que há pouco que podemos mudar individualmente. Mas fique comigo, porque eu quero te apresentar uma visão mais egoísta sobre esse tema – e mostrar como pensar no seu próprio bem pode, no fim das contas, beneficiar o mundo todo.

Outro dia, conversando com meu marido, refletimos sobre como nossa independência financeira foi facilitada pelo fato de eu ter começado a planejar cedo, aos 27 anos. Desde então, mantive meu padrão de consumo no nível típico de alguém entre 25 e 30 anos. Hoje, aos 37, ainda vivo confortavelmente com um custo de vida bem abaixo da média para minha faixa etária.

Aos 27, meus amigos estavam apenas começando a se estabilizar. Morar fora da casa dos pais já era uma conquista, mesmo que significasse viver em um apartamento de 45m². Reuníamos para tomar cerveja e vinho de R$30, e viajar para fora do país exigia a missão de encontrar o hotel mais barato possível. Dirigir um carro popular já era considerado um luxo.

Mas, com o passar dos anos, a vida ao nosso redor começou a mudar. As pessoas foram aumentando seus gastos, trocando de carro para uma SUV, se mudando para apartamentos maiores, passando a frequentar restaurantes mais caros. E, de repente, parecia que tínhamos ficado estagnados naquele estilo de vida inicial.

Não quero focar na discussão sobre o fato de eu não ter filhos, porque já vi uma quantidade suficiente de orçamentos de famílias com filhos na consultoria e posso afirmar com toda certeza: os filhos não são o problema dos orçamentos elevados (pare de culpá-los). E se você é do tipo que só acredita vendo, siga a Carol Frigério ou a Yuka, duas mães que alcançaram a independência financeira.

O ponto principal dessa discussão é que as pessoas aumentam seu padrão de vida conforme a renda sobe. E isso as coloca em uma dinâmica de consumo insustentável ao longo da vida.

No início da vida adulta, é comum viver com menos: dividir apartamento, dirigir um carro popular, viajar de forma econômica. Mas, à medida que a renda cresce, os gastos se expandem junto. Um apartamento maior, um carro melhor, jantares mais caros, viagens mais luxuosas. O problema não está em querer conforto, mas na crença de que essa escalada deve ser contínua e automática.

E aí mora o perigo: a renda tem um teto. Estudos mostram que a maioria das pessoas atinge seu pico de renda entre os 40 e 50 anos. E o que acontece depois? A renda desacelera, a aposentadoria chega e, para muitos, vem o choque: o padrão de vida construído ao longo das décadas não é mais sustentável. 

Se você acelera seus gastos simplesmente porque sua renda está subindo, pode estar construindo um castelo de areia. O que acontece quando o fluxo de dinheiro muda? Você conseguirá sustentar esse estilo de vida na velhice ou terá que cortar drasticamente seus gastos quando for tarde demais? 

Minha proposta é que você busque um consumo sustentável. Quando sua renda começar a subir, não aumente seu padrão de vida no mesmo ritmo.

Lembre-se: você precisa de um lugar para morar, mas não precisa de um apartamento com mais banheiros do que moradores. Você precisa se locomover, mas não precisa de uma SUV. Você precisa de roupas para vestir, mas não precisa comprar roupa nova todo mês.

Seguindo essas regras básicas, e muitas outras que já compartilhei aqui no blog, sua taxa de poupança pode ficar bastante elevada quando sua renda crescer. Essa poupança será investida, acumulando um patrimônio que, com o tempo, gerará juros suficientes para que você viva dele. E assim, você poderá se aposentar sem derrubar seu padrão de vida, vivendo a alegria de um estilo de vida confortável por toda a sua vida.

Se eu pudesse resumir esse texto em uma imagem….

Cresça seu padrão de forma linear

Vocês já sabem a minha história. Quando eu descobri o FIRE, percebi que meu salário ia embora por completo todo mês. Então decidi cortar meus gastos pela metade, porque estava me permitindo luxos que, no fundo, não faziam tanta diferença na minha felicidade. Foi assim que cheguei ao menor nível de despesas da minha vida – e foi nessa fase que me aposentei.  

Nos primeiros anos, consegui manter um estilo de vida bem enxuto, estava curtindo a liberdade mais que qualquer conforto adicional que o dinheiro poderia comprar.

Mas eu ainda era jovem e cheia de energia. E foi natural unir minha paixão por finanças pessoais a um trabalho – minha consultoria – que, aos poucos, começou a dar frutos. Com essa nova fonte de renda, meu padrão de vida subiu um pouco.

No ano passado, tomei uma decisão importante: me mudei para um apartamento maior, de 27m² para 75m². Fiz essa escolha com a renda da consultoria que havia acumulado até então. Mas foi ao migrar minha carteira para o Renda+ ao longo do ano que garanti uma mudança realmente sustentável. Esse ajuste aumentou minha taxa segura de retirada, tornando esse gasto extra com moradia viável para toda a vida – independentemente de novos clientes na consultoria.

Atualmente, invisto 2/3 da nova renda da consultoria, o que aumenta meu patrimônio e, consequentemente, minha taxa segura de retirada. Esse crescimento já cobre, por exemplo, uma academia que considero cara, mas cuja proximidade de casa faz toda a diferença. Antes, eu treinava em casa.  

O outro 1/3 tenho destinado a viagens – que sempre foram o grande objetivo da minha aposentadoria. Se um dia eu decidir parar com a consultoria, bastaria viajar menos, o que me parece um equilíbrio bem razoável. Além disso, essa liberdade torna o trabalho ainda mais prazeroso e motivador.  

Ou seja, mesmo subindo meu padrão de vida, consegui fazer isso de forma sustentável, graças à nova fonte de renda, ao respeito à taxa segura de retirada do meu patrimônio e à incrível inovação do Renda+.

Se você atinge a independência financeira com um padrão de vida enxuto e, depois, desenvolve novas fontes de renda, pode gastar apenas 4% desse valor extra (ou até mais, se utilizar o Renda+) de forma que esse novo consumo se torne sustentável para o resto da vida.  

Esse é o consumo sustentável que eu defendo: um crescimento financeiro que não compromete sua liberdade e garante que cada novo gasto seja realmente viável no longo prazo.

Vícios Privados, Benefícios Públicos  

Um dos livros mais geniais que já li, ou melhor, fui obrigada a ler na faculdade sem entender nada, tem esse título. Anos depois, muito mais madura, reli e achei simplesmente fantástico. A obra, escrita pelo economista e filósofo Eduardo Giannetti (tem combinação melhor?), explora um conceito fascinante.  

O livro é muito mais profundo do que isso, mas, simplificando (espero que o Giannetti me perdoe), ele analisa até que ponto as pessoas, ao agirem movidas pelo próprio interesse, acabam beneficiando a sociedade como um todo. Economistas chamam isso de externalidades positivas.  

Se você achou egoísta minha defesa do consumo sustentável sob a ótica individual – sem considerar o impacto do excesso de consumo sobre o meio ambiente –, saiba que essa não é a história completa.  

Na prática, acredito que, ao adotar um consumo sustentável para a vida toda, as pessoas acabam, quase sem querer, adotando um consumo mais sustentável para o planeta também.

Se você ainda não viu esse vídeo do Mr. Money Mustache, eu recomendo fortemente. Em menos de 30 minutos, ele argumenta de forma brilhante que é possível “ser rico, ser feliz e salvar o mundo”. O vídeo está em inglês, mas a essência da mensagem é simples: ao adotar um estilo de vida frugal, economizar grande parte da renda e investir com inteligência, você pode alcançar a independência financeira muito antes da aposentadoria tradicional. E, de quebra, ainda contribui para um mundo melhor. 

A verdade é que o movimento ambientalista e o FIRE têm muito mais em comum do que parece. Ambos defendem um estilo de vida com menos consumo, ambos mostram que a verdadeira felicidade não está em acumular bens materiais e ambos promovem um consumo mais consciente e sustentável.  

Talvez o FIRE seja, de fato, a fórmula mágica para ser rico, ser feliz e salvar o mundo.

Respostas de 6

  1. Ótimas reflexões, e obrigado pela indicação do video do MMM, apesar de eu já ter lido muito dele e visto muitas entrevistas, nunca tinha visto essa. Ele mostra de forma bem didática a falácia que é acreditar que , “em se tratando de conforto, quanto mais, melhor”. Quanto a questão dos filhos, vc pode até ter razão, mas continuo acreditando que buscar a IF com filhos é jogar no modo “hard” (sem filhos seria um modo intermediario de dificuldade)…

  2. Que artigo agradável e otimista, está visão de sustentabilidade em vários aspectos e colocando junto temas que muitos acham contraditórios.

  3. Oi Lilian.
    Eu confesso que sou uma ambientalista, daquelas ecochatas mesmo, com formação na área e tudo! E concordo integralmente contigo: FIRE e consumo consciente tem tudo em comum. Aliás, você sabia que peixes nadam em cardumes e pássaros voam em bandos seguindo regras simples e ‘locais’? Acredito realmente que é possível gerar algo complexo quando cada parte segue regras simples que visam manter uma certa integridade local (o tal benefício próprio), mesmo sem um suposto lider envolvido.
    A natureza já mostrou para a gente como fazer, haja vista que os peixes estão ai dominando os mares desde o Devoniano, basta definirmos as tais regras simples, né?! Os princípios FIRE tem se mostrado um norte muito promissor.
    Agradeço seus textos, são gotas de esperança neste mar internéctico.

  4. Com ctza nossos movimentos estão colados! Um mundo com menos coisas é benéfico para todo mundo!
    E a senhora poderia parar de aumentar minha lista de livros? rsrsr

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *