A pandemia mudou muitos os nossos hábitos, e um deles foi a criação de uma quase dependência do Ifood. Antes da pandemia, delivery era para pedir pizza e esfiha. Depois da pandemia, delivery passou a significar a principal fonte de alimentação das famílias paulistanas (e provavelmente de outras cidades pelo Brasil).
Quando eu voltei da minha viagem de 1 ano pelo Brasil, meu primeiro reencontro foi com a minha família. Combinamos de almoçar na casa do meu pai e reunir toda a família para matar a saudades.
Eu estava ansiosa para comer a macarronada do meu pai. Ela não é muito elaborada, apenas o molho que é uma mistura de tomates frescos com uma lata de tomate pelado e umas ervilhas congeladas (o toque do chefe) que dá mais trabalho. Algo simples e barato, mas aquela comida que remete a família sabe?
Quando cheguei na casa dele, notei algo estranho. Ele não me recebeu de avental e não estava na cozinha, como de costume. Ficamos na sala conversando por um tempo até que eu falei “Pai, tô com fome! O que vai ter para o almoço?”. E ele disse “Vamos pedir um Ifood!”.
Eu fiquei simplesmente chocada. Até pensei por um momento que talvez fosse uma ocasião especial e ele quisesse um almoço mais elaborado para comemorar a minha volta. Mas quando chegou a comida, tive o segundo choque do dia: era uma macarronada. Tão simples quanto a que ele fazia e que custava 1/3 do preço. E o povo ainda reclamando da inflação dos alimentos…
O padrão de pedir Ifood se repetiu em quase todos os encontros. Antes, a gente ia na casa das pessoas e elas faziam algum esforço na cozinha. Agora, as pessoas nos recebiam em suas casas e pediam um Ifood. Eu sei que cozinhar toma tempo, mas esses encontros estavam acontecendo aos finais de semana. O que aconteceu? Por que as pessoas pararam de cozinhar e ficaram tão dependentes do Ifood?
Decidi fazer uma enquete com alguns amigos e o resultado foi estarrecedor: a maioria pede Ifood quase todas as noites durante a semana também. Se considerarmos que em médias as pessoas gastam R$100 para uma refeição para duas pessoas, já incluindo as taxas de entrega e gorjeta, e que pedem dia sim, dia não, ou seja, 15 dias no mês, isso dá um gasto de R$1.500 por mês com o Ifood. Esse gasto médio também foi confirmado com a minha enquete. Enquete meia boca, eu sei, mas que serve para o propósito deste post!
Gastando o valor de um apartamento com Ifood
Quando você pede Ifood, você não está só pagando pelo valor do alimento em si, mas também pelo valor do aluguel da cozinha, o salário do cozinheiro e o serviço de entrega. Minha métrica de referência é que o valor gasto com Ifood é 3 vezes maior que o valor da mesma comida feita em casa. Considerando uma média de R$1.500 por mês, você reduziria seus gastos mensais em R$1mil se passasse a cozinhar suas refeições. Esse valor aplicado a um juros nominal médio de 10%, somaria a quantia de mais de quase R$680 mil em 20 anos. O valor de um apartamento gasto em Ifood.
Outra forma de ver o quão absurda é essa quantia é calcular quanto você precisaria a mais na aposentadoria para manter esse gasto com Ifood. Se você considerar que as pessoas gastam R$1.000 por mês a mais com Ifood, pela regra dos 4% significaria que elas precisam de R$300mil na aposentadoria para manter esse gasto!
Mas Aposentada, as pessoas precisam comer!
Alimentação é o principal grupo de gasto da população brasileira. Em média, 22% do nosso orçamento é destinado para alimentação, ganhando de outros gastos importantes como moradia (15%) e transporte (21%). O mais interessante é que esse gasto subiu em 3 pontos percentuais entre 2019 e 2022. É claro que uma parte disso é devido a inflação dos alimentos, mas eu não consigo deixar de pensar que o Ifood também teve sua parcela de culpa nisso.
Durante a pandemia pedir Ifood poderia ser uma válvula de escape. E não dá para negar o impacto positivo que teve para manter os restaurantes de pé e os empregos deste setor. Então eu saúdo o Ifood por isso! Mas agora que as pessoas podem ir aos restaurantes, por que elas continuam pedindo comida em casa? Por que alimentação dentro de casa passou a ser delivery e não mais comida feita em casa?
Além do peso no bolso que já vimos que é do valor de um apartamento, mas há um peso não negligenciável de saúde também. Salvo raras exceções, os restaurantes costumam apelar para o sal e gordura, que sempre deixam os alimentos mais saborosos. Afinal de contas, ele quer que você vire freguês e como isso só vai afetar a sua saúde com o passar dos anos, você nem vai culpá-lo por isso. Já comeu um feijão fora de casa que estava muito saboroso? Provavelmente tinha caldo Knorr nele. Ótimo para o restaurante, péssimo para a sua saúde.
Aprender a cozinhar é a solução
Eu sei o que vocês vão falar: é fácil para você que está aposentada e tem tempo de cozinhar. Mas em minha defesa eu já cozinhava mesmo quando trabalhava 12h por dia.
Como tudo na vida, aprender a cozinhar requer tempo. Eu não sabia cozinhar, mas graças à tecnologia e à Rita Lobo (minha musa na cozinha), eu aprendi. No começo, você vai errar e vai sentir saudades da comida que vem (quase) perfeita do delivery.
Na próxima vez que você estiver de bobeira em casa (talvez quando você estiver esperando o Ifood chegar), gaste seu tempo assistindo aos vídeos do canal Panelinha. Os vídeos são uma ótima forma de passatempo e ela é extremamente didática. Se você seguir os passos dela à risca, não vai ter erro!
Minha sugestão é começar com o vídeo que ela ensina a cortar cebola e ver esse vídeo de refogado. Nós brasileiros adoramos refogar qualquer coisa, então é o melhor pontapé para vida na cozinha.
Depois de poucos meses na cozinha, você vai pegar a manha e o processo todo ficará mais rápido e simples. Hoje em dia eu já tenho uma boa noção de substituições e só recorro a Rita Lobo quando é para ter ideias novas (e matar saudades, porque eu realmente gosto muito dela).
Facilite sua vida com uma cesta orgânica
A primeira desculpa é “eu não sei cozinhar”, e a segunda é “eu não tenho tempo de ir ao supermercado fazer compras”. E se eu te disser que gasto apenas 2h por mês com compras de supermercado? Eu só vou ao supermercado a cada quinze dias para comprar proteínas (que eu congelo) e produtos de limpeza e higiene. A base da minha alimentação são legumes, verduras e frutas orgânicos que são entregues toda semana na minha casa.
Aqui em São Paulo, eu assino a cesta Diferente. Se comprar por esse link, eu e você ganhamos descontos na assinatura. Você não escolhe os produtos porque eles enviam os alimentos da época. Eu gosto disso porque se fosse depender das minhas escolhas, eu acabaria vivendo apenas de berinjela e abobrinha. Com a cesta, eu já cozinhei beterraba amarela, jiló (receita da Rita Lobo, que ficou surpreendentemente saboroso) e um tipo de cebola que parecia um alho poró que eu nem sei o nome.
Não sabe como cozinhar alimentos diferentes? Mais uma vez a Rita Lobo é a sua maior aliada. Na série dela “o que tem na geladeira?”, ela dá ideias de preparos para diversos alimentos. Recebeu uma couve-flor e não sabe o que fazer com ela? Então pesquisa “panelinha couve-flor” no Google que a Rita Lobo vai te falar o que fazer!
Mas se tiver com pressa, pode seguir a receita infalível da Aposentada: cortar os legumes grosseiramente, regar com azeite, temperar com lemon-pepper e botar para assar por meia hora. Mais fácil impossível, então chega de desculpas!
Não vou entrar nos méritos de uma alimentação orgânica aqui nesse post. Sim, é uma alimentação mais cara. Mas já fui convencida de que alimentos não orgânicos são o famoso barato que sai caro.
É claro que essa comodidade de ter a cesta orgânica entregue na minha casa toda semana tem seu preço. Você pode subir um degrau acima da frugalidade e visitar uma feira orgânica. Ou você pode ser ainda mais frugal e pegar suas hortaliças em hortas comunitárias que geralmente cobram só uma contribuição simbólica. Já peguei três pés de alface por R$5 no Parque Burle Marx. Ou melhor ainda, fazer a sua própria horta, e de quebra ficar mais feliz aprendendo uma nova habilidade.
E vocês leitores, também estão chocados com a explosão de pedidos de Ifood pós pandemia? Ou pior, já incorporaram esse gasto de Ifood no dia-a-dia sem perceber?
3 respostas
Eu já faço minha própria comida há algum tempo, qdo decidi ter uma vida saudável e obviamente reduzi drasticamente o uso de Ifood.
Moro em um lugar em que as opções orgânicas ainda não são tão abundantes como em SP, mas qdo atingir a vida FIRE vou ter mais tempo para cuidar disso.
Agora, o ponto alto do seu post foi a dica de pesquisar PANELINHA+INGREDIENTE.
Gente, pq nunca pensei nisso?
Ajuda para caramba na hora de ter criatividade para cozinhar coisas diferentes, adorei!
Caramba. Pelo jeito sou a única que nunca usou o ifood ou servicos deste tipo. Sempre busco meus pedidos (que nao sao muitos) eu mesmo, vale mais a pena nos meus cálculos e sai mais barato
Oi Alexandra! Que bom que você nunca usou. A conveniência parece ser viciante, melhor ficar de fora mesmo. Beijos!