Tudo começou com uma famosa depressão pós férias. Era segunda-feira, 7:30h da manhã, e eu tinha acabado de voltar de férias maravilhosas ao lado do meu futuro marido. Logo que eu acordei fui tomada por um desespero sem fim, literalmente. Eu teria que trabalhar pelo menos mais 6 meses para tirar mais 15 dias de férias. E aí ia precisar trabalhar mais 6 meses, para mais 15 dias. Um looping sem fim, por pelos menos mais 30 anos. O colegial eu terminei em 3 anos, a graduação em 4 anos e o mestrado em 2 anos. Por que ia demorar tanto para eu conseguir parar de trabalhar?
Meu retorno ao trabalho foi aquele choque de realidade. No caminho de ida, eu até pensei “vai ser legal contar para os meus colegas como foram as férias”. Na escola, eu gostava do primeiro dia de aula. Reencontrar os amigos e contar sobre as aventuras das férias, enquanto ainda não tinha muita matéria para estudar.Cheguei ao trabalho com essa sensação nostálgica da “volta às aulas” mas logo percebi que essa fase da vida já tinha passado. Não existe “volta ao trabalho”. Você foi o único que saiu de férias, enquanto seus colegas continuaram imersos no trabalho, então eles estão focados em te atualizar sobre o que aconteceu durante a sua ausência para que você volte a produzir o mais rápido possível. E de preferência aliviar a barra deles, que sempre fica mais pesada quando alguém tá de férias. Não há muito tempo para contar das férias quando é dia de prova. E no trabalho, todo dia é dia de prova.
Até confundi por um momento meu estado de depressão pós férias com uma vontade de fugir do país. Na hora do almoço encontrei um amigo que me contou sobre seus planos de se mudar para a Austrália. A empolgação dele era tamanha que me contagiou, ainda mais porque eu havia passado as férias num país desenvolvido. Será que essa era a razão da minha tristeza? Morar num país menos desenvolvido? Voltei para o escritório e comecei a pesquisar sobre como mudar de país até que me dei conta. Como eu ia me sustentar lá? Eu ia ter que trabalhar lá.
Fugir do país não me isentava do trabalho. E eu bem sei que nossas obrigações são chatas em qualquer lugar do mundo. Durante a faculdade, eu estudei um semestre nos EUA. O começo foi incrível, com muitas festas e conhecendo muita gente. Era só alegria. Mas durou pouco. Logo eu precisava entregar trabalhos e estudar para as provas, e voltei a passar boa parte do dia enfurnada no meu quarto estudando, como eu fazia no Brasil. No final, a vida lá não era tão melhor assim, apenas diferente.
Foi nesse momento que eu percebi que o que eu queria mesmo era parar de trabalhar. Eu queria uma vida diferente. Eu queria uma vida em que eu não tivesse só 30 dias de férias para viver como eu gostaria.
Eu me conheço e sei que às vezes meus sentimentos são exagerados. Tem vontades nessa vida que são passageiras. Como quando a gente fica obcecada por um robô aspirador de última tecnologia que parece que vai ser a solução de todos os seus problemas, e que você precisa dele para ontem. Mas passam uns dias e você percebe que o robô é caro e que tem coisas melhores para fazer com o seu dinheiro, e que aquela seria uma compra por impulso. Então eu esperei alguns dias para que a minha vontade de ter uma vida diferente fosse embora.
Mas ela não foi. Na verdade, ela aumentou. Eu comecei a analisar “onde eu vou estar daqui 5 anos, 10 anos, 30 anos?”. E a resposta para isso era fácil. Eu estava rodeada de pessoas que estavam lá há muito mais tempo do que eu. E com base nelas eu poderia desenhar uma imagem perfeita do meu futuro. E eu não gostei do que eu vi.
Vi pessoas presas por algemas de ouro. Um bom salário, mas sem tempo para usufruir do dinheiro. Alguns tinham casas maravilhosas, mas que só usufruíam aos finais de semana. Outros colocavam a culpa nos filhos e diziam “eu só trabalho para pagar as contas deles”. Mas eu me perguntava: qual o benefício de ter filhos se você não tem tempo com eles? Os que já tinham filhos criados, colocavam a culpa no plano de saúde que estava caro (sim, eu cheguei a ouvir essa desculpa de um sócio da empresa). Como se o plano de saúde caro fosse compensar a falta de tempo para fazer atividade física e a alimentação pobre em nutrientes que eles consumiam na correria do dia a dia.
O mais curioso é que quando eu perguntava qual era o objetivo final, a maioria me respondia: “Me aposentar! Vou trabalhar só mais alguns anos para ter segurança financeira e finalmente curtir a vida”. Só que essa segurança financeira era vaga demais. Começava com R$1milhão, mas aí vinham os filhos. Aí parecia que R$5 milhões dariam conta, mas aí comprava uma casa de praia. Eu poderia seguir com os exemplos, mas acho que você já entendeu meu ponto. Essa segurança financeira que eles buscavam era um unicórnio, algo inexistente.
Como não encontrei um ideal de vida no trabalho, eu fui pesquisar na internet. E encontrei o Mr Money Mustache. Um norte-americano que trabalhou só até os 30 anos de idade, se aposentou antes de ter filhos e passa a vida desenvolvendo hobbies, independente do quanto isso vai trazer de dinheiro para ele. E o melhor de tudo, ele não ganhou na loteria, ele conseguiu essa proeza com uma mistura de controle de gastos e investimentos passivos. Eu devorei o blog do MMM. Passei dias e dia aprendendo sobre o estilo de vida frugal, sobre como aumentar as fontes de renda, e sobre como investir para viver de renda. E principalmente sobre como fazer as contas para a independência financeira, que eram ridiculamente simples.
Isso tudo aconteceu em 2015 e minha meta era me aposentar em 18 anos. Mas essa meta foi reduzida drasticamente e eu cheguei lá em apenas 6 anos. No começo, eu ia fazer um esforço para poupar pelo menos metade do meu salário. Conforme foi passando o tempo, a meta de parar de trabalhar era tão atraente que eu me esforcei para antecipá-la. Cada vez mais eu aprendia uma nova forma de economizar dinheiro sem diminuir minha qualidade de vida. Estudei técnicas de negociação e consegui um aumento de 30% de salário ao mudar de emprego, e depois mais 40% ao mudar de novo. E tudo que sobrava de dinheiro na conta, eu investia da forma mais eficiente possível, mirando o longo prazo.
Até que em março de 2021 eu atingi minha independência financeira. Aos 33 anos de idade, eu parei de trabalhar. Eu nunca mais teria a famosa depressão pós férias. A minha vida seria diferente dos meus colegas de trabalho que ficariam presos no mercado corporativo por mais de 30 anos. Eu voltei a ser dona do meu tempo e não mais vender a minha hora. E finalmente entendi o significado da frase “Faça o que você ama, e você não trabalhará nem um dia na sua vida”.
Se você também deseja parar de trabalhar, saiba que você não precisa esperar ficar com 60 anos ou depender de um evento de sorte como ganhar na loteria. Você pode conquistá-la mudando seu estilo de vida e aprendendo a cuidar melhor do seu dinheiro. E é sobre isso que vamos conversar nos próximos posts.
5 respostas
Alegria ou Alergia? :P
Corrigido ;)
Qual foi o montante que vc conseguiu juntar quando decidiu se aposentar?
Que bom que vc voltou e q encontrei seu blog!! Devorava tudo do seu blog antigo e agora poderei acompanhar seus posts novamente!
Oi Michelle! Bem vinda de volta ;) e volte sempre!